Por: Camila Jasmin. Fonte: Correio 24horas
Imagens: Divulgação - Google
Edição: Jorge Luiz da Silva
Serrinha, BA (da redação
Itinerante do Blog MUSIBOL)
Com 37 anos de carreira,
emplacando um sucesso atrás do outro, ele lança Rua dos Amores Ao Vivo, em CD e
DVD
Diverso em seu estilo único.
Assim é Djavan, 65, alagoano que foi tentar a sorte no Rio de Janeiro aos 23
anos, depois de ter decidido, em definitivo, trocar o futebol pela música.
“Eu jogava muito bem e todos
achavam que meu futuro era aquele. Mas eu já tinha o bichinho da música no
cérebro”, conta ele, que chegou a defender o CSA, time da primeira divisão do
campeonato alagoano.
Mas bastou um mero encontro com
um violão qualquer, jogado no chão da escola, com uma corda faltando, para
mudar o destino do garoto. “Quando descobri o meu instrumento, a devoção pela
música foi automática. Eu sentei no chão, abracei o violão e senti uma energia
tão grande com aquilo ressonando no meu peito”, lembra.
Sorte a nossa. Com 37 anos de
carreira, emplacando um sucesso atrás do outro, ele lança Rua dos Amores Ao
Vivo, em CD e DVD. E, mais uma vez, desfila seus hits atemporais: de clássicos
do seu início de carreira, como Flor de Lis, do disco de estreia, A Voz, O
Violão, A Música de Djavan, de 1976, à inédita Maledeto, faixa bônus apenas no
CD.
Repaginadas
Mas como interpretar as mesmas
músicas, há tento tempo sem soar piegas ou repetitivo? “Faço arranjos novos pra
turnê, tanto pra dar um frescor quanto pra harmonizar com o resto do
repertório. Mas sempre com o critério, a ferro e fogo, de não
descaracterizá-las; tem que continuar as
mesmas, de modo a serem identificadas logo no primeiro acorde”, diz.
A própria Flor de Lis é um
exemplo irrefutável. “Foi composta e gravada em 76. E continua uma música
fresca até hoje”, defende Djavan.
E são tantas as que seguem esta
lógica que dá até para entender a homenagem de Caetano com o trocadilho dos
versos de Sina: “Como querer djavanear o que há de bom”.
Pois o registro ao vivo desfila
livremente nessa passarela de canções inesquecíveis, como Serrado, Seduzir, Meu
Bem Querer, Samurai, Sina, Asa, Nem Um Dia, Se e, como não podia faltar,
Oceano. “São muitas as músicas que as pessoas elegeram para tornar clássicos”, admite,
mas longe de soar piegas ou pedante.
E de pensar que essas canções
já embalaram tantos romances. “Isso é uma responsabilidade. Porque, quando
fazemos um bom casamento, é ótimo. Mas, quando o casamento é ruim, nego deve
reclamar pra caramba”, diverte-se ele, garantindo que nunca ouviu uma queixa
sequer.
Curiosidade
A propósito, Oceano traz a
peculiaridade de ter passado cinco anos esquecida numa gaveta de velhas
composições. “Fiz um pedaço, aí me desinteressei por alguma razão e guardei.
Cinco anos depois, minha filha achou e me perguntou por que eu tinha largado
aquela música tão bonita”.
A gaveta, inclusive, já virou
baú e guarda pedaços de cerca de 10 mil composições, segundo estimativas do
próprio. “Tenho um acervo todo que vou deixando pra trás e, quem sabe um dia,
recorra a isso. Mas não mexo naquilo; são coisas que vão ficar ali. Oceano foi
uma exceção por ter sido descoberta por minha filha”.
E que exceção! A gravação
original contou, simplesmente, com solo de Paco de Lucia (1947-2014),
considerado o maior violonista flamenco do mundo. “Soubemos que ele vinha ao
Brasil, convidamos e ele topou gravar na hora. Paco foi o mais brilhante
instrumentista que eu conheci”.
Outro artista de renome
internacional que também já deu o ar da graça em uma canção sua foi Stevie
Wonder, que toca gaita em Samurai. O encontro aconteceu em Los Angeles, em
1982, na gravação de Luz, considerado o disco que firmou Djavan,
definitivamente, entre os grandes da música nacional - é deste também o sucesso
Sina, além de Pétala, Açaí e Capim, que ficaram de fora de Rua dos Amores Ao
Vivo.
“Nós nos divertimos muito
gravando Samurai. Fiquei muito honrado por ter feito a gaita, pois Djavan é um
grande músico”, declarou Stevie Wonder em sua passagem pelo Brasil, ano
passado.
Composições
Mas nem só de memória, mesmo
que das mais valiosas, vive a música de Djavan. Quando não está em turnê - ele
admite que precisa de um período de reclusão e introspecção para se concentrar
em compor - o artista está sempre rabiscando novas ideias e, de preferência,
com uma técnica que lhe é bem particular.
Ele é um dos raros compositores
que optam em começar pela melodia para, só então, encaixar a letra. “Faço dos
três jeitos: letra e depois música, os dois juntos ou este, que é o método que
mais uso, porque tenho liberdade total de trabalhar as duas coisas. Pra muita
gente, é impossível, mas comigo funciona muito bem”.
Em plena atividade, Djavan
aproveita para negar os boatos que vinham sendo ventilados, em especial na
internet, de uns três anos pra cá, de que estaria doente, diagnosticado com Mal
de Parkinson. “Tenho uma saúde de ferro; graças a Deus. E podem ficar tranquilos,
que ainda vou chatear vocês por muito tempo”, brinca.
O novo disco de inéditas,
inclusive, já começa a ser gravado em novembro, com previsão de lançamento em
setembro do ano que vem. Lembrando que o disco anterior, o homônimo Rua dos
Amores, lançado em 2012, também era de inéditas - 13 faixas com letras,
melodias e arranjos assinados por ele, que também produziu o disco.
Enquanto isso, o músico se
concentra na turnê de Rua dos Amores Ao Vivo, que já percorreu a América
Latina, deixando claro que ele ainda conserva o prazer de pegar a estrada. “É
claro que demanda muito trabalho e algum sofrimento, especialmente com essa
malha aérea que é péssima. Mas eu adoro cantar e fazer show”, sentencia.
Foto: Divulgação
Turnê
E os fãs baianos podem se
preparar: Djavan desembarca por aqui no dia 31 de maio, no Bahia Café Hall.
“Salvador acaba sendo um lugar onde os shows têm aquela característica própria,
de uma energia profunda”, elogia.
O músico, entretanto, não
esconde a predileção pelo espaço da Concha Acústica, que está em reforma. “Os
shows ali são todos inesquecíveis; é impressionante. O último foi uma coisa
louca”, derrete-se ele, que se apresentou na Concha em outubro.
Pra esse novo show, ele está
ainda mais à vontade no palco, ao lado de músicos que já o acompanharam em
outros discos, como o baterista Carlos Bala e o tecladista e pianista Paulo
Calasans. “Eu queria editar essa performance com essa banda, com a qual
trabalhei anos atrás, e deixar registrado esse momento, que está sendo muito
feliz”.
A gravação, em uma casa de
shows de São Paulo, em novembro do ano passado, ainda rendeu o documentário Um
Olhar Íntimo, de Adriana Penna, que acompanha o DVD e traz imagens de
bastidores e depoimentos que revelam, justamente, o clima entre ele, sua equipe
e os músicos.
“Fazer um registro ao vivo é
muito cansativo. São milhões de coisas pra resolver e não pode transparecer,
pro público, nada de estranho”, pontua Djavan, responsável ainda pela direção
musical do show.
E sua marca está lá, evidente;
a diversidade musical, ora flertando com o samba, ora com o jazz ou a black
music. “Todos os gêneros sempre me interessaram. Essa é a minha pegada”. E,
como sempre, em fino equilíbrio e harmonia.
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