Fonte: G1 (São Paulo)
Edição: Jorge
Luiz da Silva
Serrinha, BA (da redação
Itinerante do Blog MUSIBOL)
(Foto: Rafael Salim/Divulgação)
Ava Rocha
divulga o primeiro trabalho solo, 'Ava Patrya Yndia Yracema'.
'Sinto que tenho uma conexão muito forte com ele [Glauber],
espiritual até'.
Shin Oliva Suzuki
Ava Rocha tem um caminho que parece
sempre fluir para diferentes tipos de arte. Filha de dois cineastas, desde nova
teve proximidade com o cinema. Seus trabalhos na área acabaram levando ao
teatro e em 2006 ela fez filmagens da peça "Os sertões", de José
Celso Martinez Corrêa. E foi no teatro que ela começou a considerar mais a
sério uma outra carreira, a de cantora. Quase dez anos depois desse momento,
Ava lança seu primeiro disco solo, "Ava Patrya Yndia Yracema" e vem
sendo comparada a Gal Costa e Cássia Eller.
"Engraçado me
compararem com elas, já que as duas não se parecem muito. Acho que é uma
relação mais antropofágica, a gente está constantemente absorvendo, recriando,
devorando [influências]. Respeito muito as duas, elas são maravilhosas e fico
honrada com as comparações. Eu tenho uma voz grave, mas acho que é mais uma
tentativa de me identificar com alguma coisa", afirma Ava Rocha.
Outro nome de cantora aparece
quando relembra o episódio que deu o empurrão para abraçar a nova carreira:
Marlene Dietrich. "O Zé [Celso] soube através de uma amiga que eu cantava
e pediu para que acompanhasse ele no piano. Cantei Nelson Cavaquinho e outras
várias músicas.
Ele ficou superemocionado e disse 'Você tem que cantar no
espetáculo ['Os sertões']", conta.
"Aí comecei a cantar 'Luar do
sertão', substituindo uma gravação com a Marlene Dietrich cantando essa música,
e comecei a fazer parte daquilo. Então a experiência do teatro reconectou tudo
em mim: o cinema, a música, o teatro, a performance."
Ela já tinha lançado um
disco com uma banda, que levava o nome de Ava, e para a primeira obra solo
recrutou como produtor o músico Jonas Sá, que participou do disco
"Cê", de Caetano Veloso. "Queria um disco pop, inventivo,
quente, político, sensual, um disco que reunisse uma série de elementos com uma
linha inventiva, que a gente pudesse pirar. Chamei o Jonas muito por conta
disso, um cara que também transa com cinema", afirma.
O jeito de falar de
Ava, que vive no Rio e tem 36 anos, muitas vezes evoca expressões dos anos
1960/1970. Algo que se reflete no disco, com uma sonoridade próxima do
tropicalismo, com arranjos de cordas, guitarras distorcidas e momentos
experimentais espalhados ao longo de "Ava Patrya Yndia Yracema".
Negro Léo, seu namorado e
cantor/compositor, participa do álbum. A primeira música a ser divulgada do
disco, "Você não vai passar", tem autoria dele e curiosamente é
cantada sob o ponto de vista de uma mulher que passa um recado ao responsável
por sua decepção amorosa.
"Mesmo as canções que falam de amor
no disco são muito universais. É um disco muito feminino nesse sentido, de ter
diversas mulheres e não uma coisa clichê da mulher. É um disco que tem a
amante, a revolucionária, a mãe, a que ficou sozinha... não canções que falam
de mim, da minha relação. Eu visto um pouco esses personagens", diz a
cantora.
Apesar da pouca convivência com o pai, o
cineasta Glauber Rocha (1939-1981), Ava afirma sentir uma forte conexão com
ele, responsável por marcos do cinema brasileiro como "Deus e o diabo na
terra do sol". A cantora tinha só dois anos quando o diretor morreu.
"Eu sinto que tenho uma conexão
muito forte com ele, espiritual até. Coisas que para outros pode parecer
absurda. Às vezes penso numa coisa e depois vejo que ele tinha pensado algo
parecido. Muitas vezes assim, como uma conversa...", diz
Ava Rocha faz uma pausa e elabora melhor: "Mas não
são conversas assim 'oi pai', hahahaha. Quero dizer que eu medito, visualizo
ele. Não é uma coisa 'ih, ela fala com o cara!'. Pelo amor de Deus, tem muita
gente que acha que eu falo com ele. E o que mais tem é gente que me diz 'você
sabia que eu falo com o seu pai?'".
Para
lançar "Ava Patrya Yndia Yracema", ela planeja para breve shows em
São Paulo e Rio, mas ainda sem datas marcadas.
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