Por: Helena Martins. Fonte:
Agência Brasil
Edição: Jorge
Luiz da Silva
Imagens: www1.folha.uol.com.br
/ entretenimento.br.msn.com / veja.abril.com.br
Serrinha, BA (da redação Itinerante do Blog MUSIBOL)
“Tudo aquilo que seja necessário para explicar
o personagem e seu tempo tem que ser falado”, disse hoje (3) o escritor Paulo
César de Araújo, que escreveu a biografia Roberto Carlos em Detalhes. Em
entrevista ao programa Espaço Público, da TV Brasil, Araújo defendeu a possibilidade
de publicação de biografias no país, mesmo quando não autorizadas pelo
biografado. Historiador, ele estabeleceu o limite para a produção: “Você não
pode caluniar”, sentenciou.
O
escritor lançou, no último dia 20 de maio, o livro O Réu e o Rei – Minha História
com Roberto Carlos, em Detalhes, no qual aborda a história da disputa judicial
travada com o ídolo Roberto Carlos em torno da publicação da biografia do
cantor. Com traços autobiográficos, o novo livro conta, em mais de 500 páginas,
a trajetória de Araújo, a paixão pela música e o contato com o líder da Jovem
Guarda, bem como a escrita da obra que motivou amplo debate sobre a liberdade
de expressão. “Eu entrevistei de Waldick Soriano a João Gilberto”, relatou,
destacando que passou 15 anos tentando uma entrevista exclusiva com o
biografado. “Eles nunca disseram não”, disse.
Na
entrevista, ele lembrou momentos do processo judicial, que teve início no mês
seguinte ao lançamento do livro, em dezembro de 2006. De acordo com Araújo,
logo após a edição da obra, “o Roberto [Carlos] reclamou do livro numa
entrevista coletiva, dizendo que havia muitas 'inverdades'”. Após a reclamação,
foram impetrados dois processos judiciais, tanto na esfera civil quanto
criminal, os quais não apontaram as tais inverdades citadas pelo cantor,
conforme o biógrafo. “Apareceu um Roberto Carlos que o público não conhecia”,
disparou.
Em
resposta à jornalista e biógrafa Regina Echeverria, que participou como
convidada do programa, ele disse que o processo criminal teve como base o atual
texto do Código Penal, que estabelece que a biografia deve ser autorizada pelo
próprio biografado ou por parentes. “Ele
acredita nisso: que a história é um patrimônio particular. Assim como ele tem
um carro, ele tem uma história. E ter escrito sobre essa história é como ter
invadido sua propriedade, daí o pedido de prisão”.
A
biografia acabou sendo retirada de circulação, após um acordo judicial
irrevogável e definitivo, assinado pelo autor do livro, o editor e a editora
Planeta, que publicou a obra. Hoje, Araújo detalhou as motivações do acordo:
Roberto Carlos cobrou mais de R$ 3 milhões em indenização. Além disso, o juiz
do caso ameaçou fechar a editora. De acordo com Araújo, o cantor quis todo o
estoque da editora. Assim, os 11 mil livros que estavam em um depósito da
Planeta foram levados e seguem trancados, até hoje, em um depósito de posse do
expoente da música brasileira.
Sobre
artistas contrários às publicações, Araújo disse que “eles estão usando brechas
na legislação e contando com a complacência de juízes”, e criticou o que
considera um pensamento conservador. “É a história do Brasil que está impedida
de ser contada”, disse o também escritor Lira Neto, que escreveu as biografias
de Getúlio Vargas, Padre Cícero e outros personagens.
Agora,
a expectativa da editora de O Réu e o Rei, a Companhia das Letras, é que o
livro seja um sucesso editorial. Não à toa, foram produzidos 45 mil exemplares,
dos quais 31 mil já foram distribuídos. Em média, as obras editadas pela
Companhia das Letras têm tiragem inicial de 4 mil exemplares. Além disso, a
editora afirmou que considera o livro “um marco na história da luta pela
liberdade de expressão no Brasil, e em particular da luta pela liberdade de
publicação de biografias e livros que retratem a história do nosso país”,
conforme nota divulgada em seu site.
A
companhia também manifestou apoio à tramitação do projeto de lei (PL) que trata
do tema. Já aprovado pela Câmara dos Deputados, o texto altera o Código Civil
para que seja liberada a edição de biografias de personalidades públicas, vivas
ou mortas, independentemente de autorização prévia. O PL defende que a vida de
pessoas de notoriedade pública, cuja trajetória esteja envolvida em
acontecimentos de interesse da coletividade, pode ser objeto de publicações.
Ancorado
pelo jornalista Paulo Moreira Leite e com a participação de Florestan Fernandes
Júnior, o Espaço Público vai ao ar todas as terças-feiras, na TV Brasil, da
Empresa Brasil de Comunicação (EBC), das 22h às 22h30. No ar há quase um mês, o
programa já entrevistou os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Esporte,
Aldo Rebelo, bem como o presidente do Olodum, João Jorge Rodrigues.
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