Por: Débora Zampier. Fonte: Agência Brasil
Foto: ebc.com.br / paraibaonline.com.br
Serrinha, BA (da redação itinerante
do Blog MUSIBOL)
Foi em clima de tensão que o
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, recebeu
ontem (8) os dirigentes de entidades de classe da magistratura. É o primeiro
encontro desde que Barbosa começou sua gestão, em novembro do ano passado. A audiência ocorreu no gabinete da
presidência do STF e foi marcada por duras críticas aos dirigentes classistas.
Em pelo menos duas vezes, os
ânimos se acirraram e Barbosa determinou que os convidados baixassem o tom de
voz ou só se dirigissem a ele quando solicitados, além de criticar a presença
de pessoas que não foram chamadas. A audiência estava sendo pleiteada há meses
para apresentação das demandas corporativas, mas a relação estremecida entre
Barbosa e as associações dificultou a aproximação.
Recentemente, Barbosa provocou
reação das entidades ao falar, durante sessão do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), que há conluio entre juízes e advogados. O presidente do STF e do CNJ
também marcou posição contra a criação de quatro tribunais federais no país. O
projeto foi aprovado na semana passada pelo Congresso Nacional e teve como
grande articuladora a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe).
Hoje, ao falar do assunto com o
presidente da Ajufe e com os dirigentes da Associação dos Magistrados
Brasileiros (AMB) e da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do
Trabalho (Anamatra), Barbosa disse que a expansão da Justiça Federal foi
articulada “sorrateiramente”, “na surdina”. Para Barbosa, os senadores foram
induzidos a erro, pois nenhum órgão do Estado foi ouvido e não houve estudo
sério sobre o impacto financeiro da medida, que segundo ele, é cerca de R$ 8
bilhões.
“A visão corporativista distorce
as coisas. A Justiça Federal está crescendo de forma impensada e irracional”,
disse, acrescentando, de forma irônica, que os tribunais seriam criados perto
de resorts. O ministro fez referência a outro embate recente com as entidades
de classe, quando o CNJ proibiu patrocínios privados em eventos promovidos
pelas associações. Na maioria das vezes, eles ocorriam em resorts e com sorteio
de brindes.
Logo no começo da audiência, os
magistrados disseram que traziam propostas para fortalecer o Estado Democrático
de Direito, o que provocou reação de Barbosa. “O senhor acha que o Estado
[Democrático] de Direito no Brasil está enfraquecido? Temos seguramente a
democracia mais sólida da América Latina. Me causa estranheza pedido para que
não haja enfraquecimento”, rebateu.
Barbosa disse que o STF já tem
prestígio por si só e recusou os elogios por ter relatado a Ação Penal 470, o
processo do mensalão. “Estou há dez anos nesse Tribunal, foi apenas o processo
mais retumbante. Nesse, como em milhares, agi da mesma forma. Só suscitou mais
interesse. Não teve nada de extraordinário em relação ao meu modo de agir”.
Também houve mal-estar quando
Barbosa citou as investidas das entidades contra o CNJ e quando ele criticou a
tática de usar a imprensa para atacá-lo. “Quando tiverem algo a acrescentar,
antes de irem à imprensa, dirijam documento à minha assessoria, não vão
primeiro à imprensa para criar clima desagradável”, disparou. O ministro ainda disse que as associações
“não podem fazer só o que interessa à classe, mas o que interessa a todo o
país”.
Os únicos pontos de aparente
convergência foram a necessidade de mudanças na legislação penal para evitar
impunidade, o fim de critérios subjetivos para promoção de juízes ou nomeação
de ministros e desembargadores e abertura de discussão sobre a retomada do
adicional por tempo de serviço, medida que pode evitar o abandono precoce da
carreira pelos juízes.
Segundo as associações, juízes
que podem se aposentar aos 70 anos estão deixando a carreira, em média, aos 56
anos, pois não têm perspectiva de crescimento e preferem se aposentar. Segundo
o presidente da AMB, Nelson Calandra, só no ano passado mais de 530 juízes
deixaram seus postos, provocando déficit de mão de obra e acúmulo de trabalho.
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