No dia 13 de dezembro, o pai de
'Asa Branca' faria 100 anos
Luiz Gonzaga (1912 - 1989)
Em homenagem ao centenário de um
dos maiores ícones da cultura nordestina e da música brasileira, conhecido como
criador do baião, o iBahia preparou um especial com uma série de matérias e
listas para relembrar a memória do mestre do forró, Luiz Gonzaga. Acompanhe
pela página www.ibahia.com/luizgonzaga e mande sugestões de pauta e
curiosidades para nossa equipe pelo agenda@portalibahia.com.br.
Conheça a biografia de Gonzagão:
1912
Dia 13 de dezembro, sexta-feira.
Nasce LUIZ GONZAGA DO NASCIMENTO, na Fazenda Caiçara, em Exu, situada junto a
Serra do Araripe, Pernambuco. Segundo dos nove filhos do casal Januário José
dos Santos, o Mestre Januário, sanfoneiro de 8 baixos afamado na região, e Ana
Batista de Jesus, conhecida por Santana.
1920
O filho do Mestre Januário recebe
seu primeiro cachê ao tocar substituindo o sanfoneiro em festa tradicional na
fazenda: 20$000 (vinte mil réis). Ainda adolescente, torna-se conhecido em boa
parte das regiões vizinhas.
1926
Aos treze anos, Luiz Gonzaga
compra sua primeira sanfona, na cidade de Ouricuri, graças ao empréstimo
concedido pelo coronel Manoel Ayres de Alencar: um 8 Baixos, Koch, marca veado,
igual ao do Mestre Januário, ao preço de 120 mil réis. Quando saldou sua
dívida, anunciou ao coronel Ayres que não iria mais trabalhar com ele, pois a
partir de então, seria sanfoneiro profissional.
1929
Participa de um grupo de
escoteiros e conhece Nazarena, por quem se apaixona e com quem namora às
escondidas. Rejeitado pelo pai da moça, de família importante, aproveita o dia
da feira e vai tirar satisfações da desfeita armado com uma faquinha, após uns
goles de cana. Leva uma surra de Santana e foge de casa para o Crato, no Ceará,
onde vende sua sanfoninha de 8 baixos.
1930
Luiz Gonzaga aumenta sua idade
para sentar praça no Exército, na cidade de Fortaleza. Com o advento da
Revolução de 30 segue em missão militar pelo Brasil como soldado Nascimento.
Mestre Januário consegue reaver a sanfona vendida no Crato por 80 mil réis, através
de um amigo, o Sr. José Lindolfo.
Após o término do tempo legal de
serviço militar, o soldado Nascimento escolhe continuar servindo no Exército,
instituição que representou o papel de uma grande e importante escola. Nas
horas vagas acompanhava, pelos programas de rádio, os sucessos musicais da
época.
1933
Por não conhecer a escala
musical, é reprovado num concurso para músico numa unidade do exército, em
Minas Gerais. Vira tambor-corneteiro e ganha o apelido de "bico de
aço".
1936
Gonzaga aprende a tocar sanfona
de 120 baixos em Minas Gerais, com um soldado de polícia chamado Domingos
Ambrósio. Para treinar, adquire uma sanfona de 48 baixos e aproveita as folgas
da caserna para tocar em festas.
1938
Gonzaga é ludibriado por um
caixeiro-viajante, a quem paga 500 mil réis em prestações mensais para adquirir
uma sanfona branca, Honner, de 80 baixos. Foge do quartel, em Ouro Fino (MG),
para ir buscar a sanfona em São Paulo. Lá chegando, descobre que não vendiam
sanfona no endereço que o caixeiro lhe dera. Ao retornar ao hotel onde se
hospedara, acaba comprando uma sanfona igualzinha à que tinha ido buscar, pelo
valor das prestações que faltavam pagar, 700 mil réis, e que ele havia
arrecadado com a venda da sanfona de 48 baixos.
1939
Luiz Gonzaga dá baixa das Forças
Armadas, impulsionado por um decreto que proibia para os soldados um
engajamento superior a dez anos no Exército. Desembarca no Rio com bilhetes
comprados para Recife, de navio, e Exu, de trem. Enquanto aguardava a chegada
do navio que o levaria ao Recife, resolve conhecer o Mangue, o bairro boêmio
vizinho. E lá, com sua sanfona Honner branca, faz sucesso tocando valsas,
tangos, choros, foxtrotes e outros ritmos da época. Através de um músico amigo,
o baiano Xavier Pinheiro, casado com uma portuguesa, Gonzaga vai morar no morro
de São Carlos, à época tranqüilo reduto português no Rio.
1940
Luiz Gonzaga modifica o seu
repertório, pressionado por estudantes cearenses, e consegue tirar nota máxima
no programa Calouros em desfile, de Ary Barroso, na Rádio Tupi, executando a
música Vira e Mexe, um "xamego" (chorinho) lá do seu pé-de-serra.
Pouco tempo depois vai trabalhar com Zé do Norte no programa A hora sertaneja,
na Rádio Transmissora. Chega ao Rio seu irmão José Januário Gonzaga, fugindo da
seca devastadora e trazendo um pedido de ajuda por parte de Santana. Zé Gonzaga
passa a morar com o irmão.
5 de março. Data da primeira
participação de Luiz Gonzaga numa gravação da Victor, atuando como sanfoneiro
da dupla Genésio Arruda e Januário França, na "cena cômica" A viagem
de Genésio. Seu talento chama a atenção de Ernesto Augusto Matos, chefe do
setor de vendas da Victor. E no dia 14 de março Luiz Gonzaga grava, assinando
pela primeira vez como artista principal, e exclusivo da Victor, quatro músicas
que são lançadas em dois 78 rotações. É publicada a primeira reportagem sobre
Luiz Gonzaga na revista carioca Vitrine, com o título Luiz Gonzaga, o virtuoso
do acordeom. Ainda em 41, Gonzaga grava mais dois 78 rotações. O sucesso havia
chegado, e Gonzaga já era chamado como "o maior sanfoneiro do nordeste, e
até do Brasil".
1944
O apelido "Lua",
invenção de Dino 7 Cordas pelo rosto arredondado de Gonzaga, é divulgado pelo
radialista Paulo Gracindo na Rádio Nacional.
1945
11 de abril. Luiz Gonzaga grava o
25º disco de sua carreira como sanfoneiro, e o primeiro como cantor, com as
músicas Dança Mariquinha, mazurca de sua autoria com letra de Miguel Lima, e
Impertinente, polca também de sua autoria, instrumental. Mas a afirmação como
intérprete só chega com o 31º disco, lançado em novembro, pelo sucesso
estrondoso da mazurca Cortando o pano, uma parceria com Miguel Lima e Jeová
Portella. Em 22 de setembro nasce Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior,
Gonzaguinha, fruto de um relacionamento com a cantora Odaléia Guedes. Desejoso
de encontrar o parceiro certo para expressar sua musicalidade sertaneja, Luiz
Gonzaga procura o cearense Lauro Maia. Este apresenta-lhe o cunhado, também
cearense, advogado e poeta, Humberto Teixeira. Era o mês de agosto. Esse
primeiro encontro rendeu a primeira parceria, No meu pé de serra, xote que só
seria gravado em novembro do ano seguinte.
1946
No mês de outubro o conjunto
Quatro Ases e um Coringa, da Odeon, acompanhado pela sanfona de Luiz Gonzaga,
grava a segunda parceria de Gonzaga e Humberto Teixeira, a música Baião,
sucesso em todo país. Depois de receber a visita de Santana, Gonzaga volta à
sua terra, Exu, após 16 anos ausente. No retorno para o Rio, passa pela
primeira vez no Recife, participando de vários programas de rádio e muitas
festas. Nesse momento conhece Sivuca, Nelson Ferreira, Capiba e Zédantas,
estudante de medicina, músico por vocação, apaixonado pela cultura nordestina.
1947
Luiz Gonzaga grava em março o 78
rpm que se tornaria um clássico da música brasileira: a toada Asa Branca, sua
terceira parceria com Humberto Teixeira, inspirado no repertório de tradição
oral nordestino. A partir desse ano, Luiz Gonzaga adota o chapéu de couro
semelhante ao usado por Lampião, a quem tinha verdadeira admiração, à sua
apresentação artística, - embora a Rádio Nacional ainda não o permitisse
apresentar-se 'como cangaceiro' nos seus programas - assumindo, ao mesmo tempo
em que também plasmava, a identidade nordestina no cenário nacional. Num
domingo de julho, Gonzaga conhece na Rádio Nacional, a contadora Helena das
Neves Cavalcanti, e a contrata para ser sua secretária. Rapidamente o namoro
acontece, e Gonzaga pensa em casar.
1948
No dia 16 de junho Luiz Gonzaga e
Helena casam-se no Rio de Janeiro, e passam a morar, juntamente com a mãe de
Helena, dona Marieta, no bairro de Cachambi.
1949
Aproveitando uma folga entre as
gravações, Luiz Gonzaga leva a esposa e sogra para conhecerem o Araripe, e sua
terra Exu. Porém, interrompem a viagem quando estavam no Crato, por causa das
desavenças e mortes entre os Sampaio e os Alencar. A grande violência que
marcava a disputa entre os clãs rivais ameaçava sua família, ligada aos
Alencar. Preocupado, Gonzaga aluga uma casa no Crato, para onde leva seus pais
e irmãos, enquanto preparava a mudança de sua família para o Rio de Janeiro, o
que ocorreu ainda em 49.
1950
Em janeiro, o médico formando
Zédantas chega ao Rio, a fim de prestar residência no Hospital dos Servidores,
para alegria de Gonzaga, que vai esperá -lo na plataforma da estação de trem.
Nesse ano, Luiz Gonzaga lançou, gravando ou cedendo para outros intérpretes,
mais de vinte músicas inéditas, a maioria parcerias com Humberto Teixeira e
Zédantas que se tornariam clássicos da MPB. Em junho lança a música A dança da
moda, parceria com Zédantas que retratava a febre nacional pelo baião.
1951
Luiz Gonzaga já era o consagrado
'Rei do Baião', e o advogado Humberto Teixeira o 'Doutor do Baião'! Em maio
Luiz Gonzaga sofre um grave acidente de carro, junto com seus músicos: João
André Gomes, apelidado Catamilho, do zabumba, e Zequinha, do triângulo.
Humberto Teixeira candidata-se a Deputado Federal, e recebe o apoio do
parceiro. Durante todo o ano de 51 Gonzaga foi convidado permanente da série No
Mundo do Baião, produzido por Zédantas, parte das atrações do Departamento de
Música Brasileira da Rádio Nacional, cuja direção era de Humberto Teixeira.
Gonzaga havia aproximado os dois parceiros, mas essa convivência era difícil e
durou pouco tempo. Foi No Mundo do Baião que Luiz Gonzaga coroou, com chapéu de
couro, Carmélia Alves como Rainha do Baião. Ela interpretava o baião com
acompanhamento de orquestra, e levava a música do Rei para as boates e
ambientes da elite. Luiz Gonzaga e Helena adotam uma menina: Rosa Maria.
1952
Outubro de 1952, data do 71º
disco da carreira de Gonzaga, o último 78 rpm com Humberto Teixeira, músicas já
lançadas em anos anteriores. Hervê Cordovil é apresentado à Gonzaga por
Carmélia Alves, e tornam-se parceiros.
1953
Catamilho é afastado por Gonzaga
do seu conjunto, e Zequinha o acompanha. Gonzaga contrata Jurai Nunes, o Cacau,
para tocar zabumba, e Oswaldo Nunes Pereira, o Xaxado para o triângulo. Mais
tarde, por causa de sua baixa estatura, Xaxado seria apelidado de Salário
Mínimo.
1954
Luiz Gonzaga conhece Neném, mais
tarde Dominguinhos, aos 14 anos, na cidade de Garanhuns. Nesse mesmo ano seu
primo, o vaqueiro Raimundo Jacó, é assassinado na região do Araripe.
1955
1955 Luiz Gonzaga apresenta o
trio formado por Marinês, Abdias e Chiquinho, que ficou conhecido como Patrulha
de Choque Luiz Gonzaga.
1956
Marinês é coroada Rainha do
Xaxado na Rádio Mayrink Veiga. A cantora japonesa Keiko Ikuta grava as músicas
Baião de Dois e Paraíba.
1960
11 de junho: morre Santana,
vitimada pela doença de Chagas, no Rio de Janeiro. 05 de novembro: Januário,
aos 71 anos, casa-se com Maria Raimunda de Jesus, 32 anos, no Exu. Gonzaga
participa, gratuitamente, da campanha de Jânio Quadros à Presidência da
República.
1961
Gonzaguinha vai morar com o pai
em Cocotá, Rio de Janeiro. Luiz Gonzaga torna-se maçom, e sofre outro acidente
de carro que lhe desfigura o lado direito do rosto, ferindo gravemente o seu
olho.
1962
11 de março: morre Zédantas, aos
41 anos. Luiz Gonzaga conhece João Silva.
1963
Luiz Gonzaga teve sua sanfona
Universal, preta, roubada. Antenógenes Silva, seu amigo e afinador, lhe
empresta uma sanfona branca. A partir de então, adota a cor branca para suas
sanfonas, e a inscrição "É do povo" em todos os seus instrumentos.
Luiz Gonzaga conhece o poeta cearense Patativa do Assaré.
1964
Gonzaga compra terrenos em Exu,
onde irá construir o Parque Aza Branca.
1968
Carlos Imperial, apresentador de
programas de rádio e televisão, espalha o boato de que The Beatles gravara a
toada Asa Branca. Luiz Gonzaga conhece Edelzuíta Rabelo, advogada, numa festa
junina em Caruaru.
1971
A Missa do Vaqueiro é celebrada
pela primeira vez, em memória de Raimundo Jacó. Desde então passa a ser
anualmente celebrada, tornando-se evento tradicional em Pernambuco.
1972
Gonzaga apresenta o espetáculo
Luiz Gonzaga volta para curtir, no Teatro Tereza Rachel, no Rio, produzido por
Capinam, para uma platéia formada maciçamente por estudantes. Nesse ano, rompe
o contrato de 32 anos com a RCA.
1973
Gonzaga é levado para a EMI-Odeon
por Fernando Lobo, onde permanece por dois anos. Recebe o título de Cidadão
Paulista, e inicia a reforma dos imóveis que havia comprado na entrada da
cidade de Exu.
1975
Luiz Gonzaga reencontra
Edelzuíta, o grande amor da fase final de sua vida.
1976
Luiz Gonzaga assina novamente
contrato com a RCA Victor.
1978
11 de junho: morre o Mestre
Januário.
1979
No mês de outubro morre Humberto
Teixeira.
1980
Luiz Gonzaga canta para o Papa
João Paulo II na capital cearense. Inicia, em parceria com Gonzaguinha, a turnê
do show Vida do Viajante, que percorre várias cidades brasileiras,
estendendo-se até o ano seguinte, quando é lançado o álbum duplo da gravação do
show, ao vivo.
1982
Luiz Gonzaga viaja para Paris,
onde se apresenta na casa de espetáculos Bobino, na noite de 16 de maio, a
convite da cantora amazonense Nazaré Pereira. A partir desse ano, Luiz Gonzaga
passa a assinar como Gonzagão quase todos os seus disco, forma como havia sido
chamado por ocasião de sua turnê com Gonzaguinha.
1984
Gonzaga recebe o primeiro disco
de Ouro com o LP Danado de Bom, no qual tinha João Silva por principal
parceiro, e que receberia um segundo Disco de Ouro em seguida. João Silva seria
seu grande parceiro, a partir de então. Morre Jackson do Pandeiro. Gonzaga
recebe o Prêmio Shell.
1985
Gonzaga recebe o prêmio Nipper de
Ouro, homenagem internacional da RCA a um artista de seu quadro. Luiz Gonzaga
recebe dois discos de ouro para o LP Sanfoneiro Macho.
1986
Luiz Gonzaga participa do
festival de música brasileira na França, Couleurs Brésil, evento que inaugura o
programa dos anos Brasil-França 86-88. O Rei do Baião apresentou-se na Grande
Halle de La Villette no show de encerramento, junto com outros artistas
brasileiros, para um público aproximado de 15 mil pessoas. O LP Forró de Cabo a
Rabo, deu a Luiz Gonzaga dois discos de ouro e um de platina.
1988
Em junho pede o desquite,
separa-se de Helena, e assume o relacionamento com Edelzuíta Rabelo. Neste ano
também desliga-se definitivamente da RCA.
1989
Luiz Gonzaga grava pela
Copacabana Records seus últimos discos. 21 de junho: é internado no Hospital
Santa Joana, no Recife. 02 de agosto: morre Luiz Gonzaga, aos 76 anos de idade.
*As informações são do Memorial
Luiz Gonzaga.
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