Por: Janir Júnior. Fonte: Globo Esporte
Edição:
Jorge Luiz da Silva
Salvador,
BA (da redação itinerante do Blog MUSIBOL)
BAÚ DO
ESPORTE
A escalação da
equipe de cabeludos tinha Moraes Moreira, Luiz Galvão, Pepeu Gomes, Paulinho
Boca de Cantor, Bola, Gato, Didi, entre outros. Eram os Novos Baianos, muito
mais do que uma simples banda, um time de apaixonados por bola que chegou a
ganhar no scratch reforços de Jairzinho, Afonsinho, Nei Conceição, entre
outros. A música e o futebol se tornaram negócios milionários, mas o romantismo
do passado ainda é lembrado em verso e prosa.
Em 2013,
completam-se 40 anos do lançamento do disco Novos Baianos F.C, terceiro álbum
de estúdio da banda que traz uma regravação de "O samba da minha
terra", de Dorival Caymmi, e canções que fazem menção ao esporte bretão,
como "Só se não for brasileiro nessa hora". O grupo que marcou época
bate bola entre duas paixões brasileiras: futebol e música.
- O disco foi
feito quando o nosso time de futebol estava no auge e contava com vários
craques como Jairzinho, Afonsinho, Nei Conceição, Britto, Dé Aranha. Os caras
adoravam ir pra lá, reforçavam nosso time. Estava essa onda de futebol e
música, por isso batizamos o disco de Novos Baianos Futebol Clube. A gente
dizia que era um time na vida mesmo, todo mundo jogava junto. Diziam que éramos
uma comunidade. Mas, não: éramos um time de futebol. Aí, fizemos o disco. Tem
música que fala de futebol. Quarenta anos depois, o pessoal ainda curte esse
disco. Fizemos o show do Acabou Chorare no ano passado. Queríamos fazer agora o
de 40 anos do Novos Baianos FC para comemorar – afirmou Moraes Moreira.
Moraes era
centroavante e gostava de usar a camisa 10 do seu time de coração, o Flamengo,
ou a de tom vermelho dos Novos Baianos.
Novos Baianos
reunidos em mais um dia de gravações e futebol. Do alto, da esquerda para a
direita, Baby Consuelo segura o bebê, Luiz Galvão (o terceiro) puxa a animação,
ao lado de Charles Negrita, com Moraes Moreira encostado na parede. Abaixo,
Pepeu Gomes (o segundo) bate papo animado, e Paulinho Boca de Cantor (o último,
de barba) com a criança no colo
No início dos
anos 70, os músicos moravam em um casarão na então bucólica Vargem Grande, Zona
Oeste do Rio, no local conhecido como Sítio do Vovô. As “babas”, gíria baiana
para peladas, aconteciam no Clube Guanabara, onde o time chegava numa caçamba
de caminhão ou em bicicletas para desfilar seus cabelos compridos e uniformes
novos. Parte do dinheiro, por muitas vezes escassa, era investida em material
esportivo.
- Era tudo
lindo em Vargem Grande. Fui até lá a convite do Afonsinho e do Nei Conceição.
Era um ambiente interessante, a rapaziada bem legal. Também sou uma pessoa
ligada à música. Deu para aprender muito com eles, até mesmo pelo suingue dos
Novos Baianos – recordou Jairzinho, que em 1973 ainda defendia o Botafogo.
Reza a lenda
que os Novos Baianos chegaram a recusar um show ao lado de Michael Jackson,
então integrante do Jackson Five. Quando o empresário da banda chegou a Vargem
Grande acompanhado de pessoas ligadas ao grupo brasileiro, Galvão e companhia
até interromperam o futebol para escutar a proposta, mas logo agradeceram,
disseram “não” e seguiram com a peleja.
- Eles eram
fanáticos a tal ponto que se consideravam melhores jogadores do que músicos, o
que evidentemente não correspondia à realidade. Eles até conseguiam fazer umas
peladas e tudo o mais, mas não tinham o talento futebolístico comparado ao de
músicos. Quando fiz o documentário, eu tive quer dar, sim, alguma ênfase ao
futebol, mas sem levar muito a sério. O futebol era muito importante para eles
a tal ponto que tínhamos feito um cronograma de filmagens e o último dia seria
um domingo à noite. Eles falaram que precisávamos acabar antes de tal hora pois
tinha jogo do Vasco. A gente terminou a tempo de conseguirem assistir ao jogo –
recordou Solano Ribeiro.
Produtor
musical, Solano recebeu o pedido de uma TV alemã para que registrasse o
alternativo dia a dia dos músicos. Ele acabou sendo o principal responsável
pelo documentário “Novos Baianos FC” que, assim como o disco, foi feito em
1973. Meio perdido no tempo, o filme caiu na Internet e hoje acumula milhões de
acessos.
- Foi uma coisa
meio extraordinária. O documentário foi feito para a TV alemã, mas precisava de
um coprodutor para dar apoio logístico e burocrático. O filme sumiu até da
minha lembrança até que alguém colocou no Youtube. Isso foi adquirindo um
número de acessos que passou de cinco milhões. É fantástico observar esse
fenômeno – completou Solano.
Memorias de
Galvao e rivalidade carioca
Nos Novos
Baianos, Luiz Galvão compunha grandes letras. Era cabeça pensante na música e
também no futebol, fazendo a função de camisa 10.
- Nós éramos
bons de bola, Eu era camisa 10, Moraes era centroavante. Pepeu (Gomes) aprendeu
a jogar e até driblar. Jorginho era lateral-esquerdo, mas devido à habilidade
passou a ser meio de campo. Charles Negrita e Gato Felix faziam a dupla de
zagueiros. Os Novos Baianos ensaiavam horas diárias e, nos finais de tarde,
jogavam uma “baba”, inclusive com a presença da Baby. Fazíamos jogos contra
times profissionais de futebol. O Itabuna (da Bahia) nos goleou por 11 a 1, mas
foi porque um jornalista amigo nosso nos deixou numa fazenda e ficamos dois
dias com fome, porém não corremos de enfrentar aquele time profissional –
recordou Galvão.
Ele revela a
sadia rivalidade clubística no grupo:
- Meu time é o
Vasco, o resto é fiasco. Baby e Pepeu são flamenguistas, Jorginho é Fluminense,
e Bola, Didi e Gato torciam pelo Vascão.
O tempo passou,
os Novos Baianos se dissolveram, cada um seguiu seu caminho, nem todos os
problemas de relacionamento conseguiram ser driblados e, atualmente, para jogar
uma “baba” é preciso ter cautela.
- Continuo
jogando futebol, mas agora fico na banheira e só poucas vezes arrisco driblar e
lançar no meio de campo – disse Galvão.
Moraes ainda é
alucinado por bola. Mas só pela TV:
- Continuo
vendo futebol pra c...Não saio jogando, estou com medo de me machucar, mas jogo
junto com Flamengo e Seleção. É um vício total.
Em 2011,
Henrique Dantas lançou o documentário “Filhos de João, Admirável Mundo Novo
Baiano”, que demorou 11 anos para ficar pronto e mais dois para chegar às
telonas. Entre depoimentos de quase todos integrantes – depois de conceder
entrevista para a película, Baby do Brasil pediu que sua fala não fosse
incluída -, lá está o futebol tendo destaque.
- A ligação é
muito forte, todos eles são psicopatas por futebol. Os caras tinham uma onda
que não tem em nenhuma outra banda do Brasil. Não teve igual – atestou
Henrique.
Passados 40
anos, fica a certeza de que os Novos Baianos driblaram a ditadura, fizeram um
gol de placa pela música brasileira e deram a lição: quem joga junto forma um
time.
Relembre os
sucessos do disco “Novos Baianos F.C.”
Novos Baianos -
Novos Baianos F.C. [1973] | Completo full album
Terceiro álbum da banda,
lançado em 1973 pela gravadora Continental.
1. Sorrir e Cantar como Bahia (Luiz Galvão / Moraes Moreira)
2. Só Se Não For Brasileiro Nessa Hora (Galvão / Moreira)
3. Cosmos e Damião (Galvão / Moreira)
4. O Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi)
5. Vagabundo Não é Fácil (Galvão / Moreira)
6. Com Qualquer Dois Mil Réis (Gomes / Galvão / Moreira)
7. Os 'Pingo' da Chuva (Gomes / Galvão / Moreira)
8. Quando Você Chegar (Galvão / Moreira)
9. Alimente (Pepeu Gomes / Jorginho Gomes)
10. Dagmar (Moraes Moreira)
Fotos:
imagens.us
lastfm.com.br
sebododisco.com.br
sambazul.blogspot.com
oesquema.com.br
Licença: Licença padrão do YouTube
0 comentários:
Postar um comentário