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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Novos Baianos - 40 anos

Por: Janir Júnior. Fonte: Globo Esporte
Edição: Jorge Luiz da Silva
Salvador, BA (da redação itinerante do Blog MUSIBOL)

BAÚ DO ESPORTE


A escalação da equipe de cabeludos tinha Moraes Moreira, Luiz Galvão, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Bola, Gato, Didi, entre outros. Eram os Novos Baianos, muito mais do que uma simples banda, um time de apaixonados por bola que chegou a ganhar no scratch reforços de Jairzinho, Afonsinho, Nei Conceição, entre outros. A música e o futebol se tornaram negócios milionários, mas o romantismo do passado ainda é lembrado em verso e prosa.




Em 2013, completam-se 40 anos do lançamento do disco Novos Baianos F.C, terceiro álbum de estúdio da banda que traz uma regravação de "O samba da minha terra", de Dorival Caymmi, e canções que fazem menção ao esporte bretão, como "Só se não for brasileiro nessa hora". O grupo que marcou época bate bola entre duas paixões brasileiras: futebol e música.

- O disco foi feito quando o nosso time de futebol estava no auge e contava com vários craques como Jairzinho, Afonsinho, Nei Conceição, Britto, Dé Aranha. Os caras adoravam ir pra lá, reforçavam nosso time. Estava essa onda de futebol e música, por isso batizamos o disco de Novos Baianos Futebol Clube. A gente dizia que era um time na vida mesmo, todo mundo jogava junto. Diziam que éramos uma comunidade. Mas, não: éramos um time de futebol. Aí, fizemos o disco. Tem música que fala de futebol. Quarenta anos depois, o pessoal ainda curte esse disco. Fizemos o show do Acabou Chorare no ano passado. Queríamos fazer agora o de 40 anos do Novos Baianos FC para comemorar – afirmou Moraes Moreira.

Moraes era centroavante e gostava de usar a camisa 10 do seu time de coração, o Flamengo, ou a de tom vermelho dos Novos Baianos.



Novos Baianos reunidos em mais um dia de gravações e futebol. Do alto, da esquerda para a direita, Baby Consuelo segura o bebê, Luiz Galvão (o terceiro) puxa a animação, ao lado de Charles Negrita, com Moraes Moreira encostado na parede. Abaixo, Pepeu Gomes (o segundo) bate papo animado, e Paulinho Boca de Cantor (o último, de barba) com a criança no colo

No início dos anos 70, os músicos moravam em um casarão na então bucólica Vargem Grande, Zona Oeste do Rio, no local conhecido como Sítio do Vovô. As “babas”, gíria baiana para peladas, aconteciam no Clube Guanabara, onde o time chegava numa caçamba de caminhão ou em bicicletas para desfilar seus cabelos compridos e uniformes novos. Parte do dinheiro, por muitas vezes escassa, era investida em material esportivo.

- Era tudo lindo em Vargem Grande. Fui até lá a convite do Afonsinho e do Nei Conceição. Era um ambiente interessante, a rapaziada bem legal. Também sou uma pessoa ligada à música. Deu para aprender muito com eles, até mesmo pelo suingue dos Novos Baianos – recordou Jairzinho, que em 1973 ainda defendia o Botafogo.

Reza a lenda que os Novos Baianos chegaram a recusar um show ao lado de Michael Jackson, então integrante do Jackson Five. Quando o empresário da banda chegou a Vargem Grande acompanhado de pessoas ligadas ao grupo brasileiro, Galvão e companhia até interromperam o futebol para escutar a proposta, mas logo agradeceram, disseram “não” e seguiram com a peleja.



- Eles eram fanáticos a tal ponto que se consideravam melhores jogadores do que músicos, o que evidentemente não correspondia à realidade. Eles até conseguiam fazer umas peladas e tudo o mais, mas não tinham o talento futebolístico comparado ao de músicos. Quando fiz o documentário, eu tive quer dar, sim, alguma ênfase ao futebol, mas sem levar muito a sério. O futebol era muito importante para eles a tal ponto que tínhamos feito um cronograma de filmagens e o último dia seria um domingo à noite. Eles falaram que precisávamos acabar antes de tal hora pois tinha jogo do Vasco. A gente terminou a tempo de conseguirem assistir ao jogo – recordou Solano Ribeiro.



Produtor musical, Solano recebeu o pedido de uma TV alemã para que registrasse o alternativo dia a dia dos músicos. Ele acabou sendo o principal responsável pelo documentário “Novos Baianos FC” que, assim como o disco, foi feito em 1973. Meio perdido no tempo, o filme caiu na Internet e hoje acumula milhões de acessos.

- Foi uma coisa meio extraordinária. O documentário foi feito para a TV alemã, mas precisava de um coprodutor para dar apoio logístico e burocrático. O filme sumiu até da minha lembrança até que alguém colocou no Youtube. Isso foi adquirindo um número de acessos que passou de cinco milhões. É fantástico observar esse fenômeno – completou Solano.

Memorias de Galvao e rivalidade carioca
Nos Novos Baianos, Luiz Galvão compunha grandes letras. Era cabeça pensante na música e também no futebol, fazendo a função de camisa 10.



- Nós éramos bons de bola, Eu era camisa 10, Moraes era centroavante. Pepeu (Gomes) aprendeu a jogar e até driblar. Jorginho era lateral-esquerdo, mas devido à habilidade passou a ser meio de campo. Charles Negrita e Gato Felix faziam a dupla de zagueiros. Os Novos Baianos ensaiavam horas diárias e, nos finais de tarde, jogavam uma “baba”, inclusive com a presença da Baby. Fazíamos jogos contra times profissionais de futebol. O Itabuna (da Bahia) nos goleou por 11 a 1, mas foi porque um jornalista amigo nosso nos deixou numa fazenda e ficamos dois dias com fome, porém não corremos de enfrentar aquele time profissional – recordou Galvão.

Ele revela a sadia rivalidade clubística no grupo:

- Meu time é o Vasco, o resto é fiasco. Baby e Pepeu são flamenguistas, Jorginho é Fluminense, e Bola, Didi e Gato torciam pelo Vascão.

O tempo passou, os Novos Baianos se dissolveram, cada um seguiu seu caminho, nem todos os problemas de relacionamento conseguiram ser driblados e, atualmente, para jogar uma “baba” é preciso ter cautela.

- Continuo jogando futebol, mas agora fico na banheira e só poucas vezes arrisco driblar e lançar no meio de campo – disse Galvão.

Moraes ainda é alucinado por bola. Mas só pela TV:




- Continuo vendo futebol pra c...Não saio jogando, estou com medo de me machucar, mas jogo junto com Flamengo e Seleção. É um vício total.

Em 2011, Henrique Dantas lançou o documentário “Filhos de João, Admirável Mundo Novo Baiano”, que demorou 11 anos para ficar pronto e mais dois para chegar às telonas. Entre depoimentos de quase todos integrantes – depois de conceder entrevista para a película, Baby do Brasil pediu que sua fala não fosse incluída -, lá está o futebol tendo destaque.

- A ligação é muito forte, todos eles são psicopatas por futebol. Os caras tinham uma onda que não tem em nenhuma outra banda do Brasil. Não teve igual – atestou Henrique.

Passados 40 anos, fica a certeza de que os Novos Baianos driblaram a ditadura, fizeram um gol de placa pela música brasileira e deram a lição: quem joga junto forma um time.




Relembre os sucessos do disco “Novos Baianos F.C.”

Novos Baianos - Novos Baianos F.C. [1973] | Completo full album


Terceiro álbum da banda,
lançado em 1973 pela gravadora Continental.

1. Sorrir e Cantar como Bahia (Luiz Galvão / Moraes Moreira)
2. Só Se Não For Brasileiro Nessa Hora (Galvão / Moreira)
3. Cosmos e Damião (Galvão / Moreira)
4. O Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi)
5. Vagabundo Não é Fácil (Galvão / Moreira)
6. Com Qualquer Dois Mil Réis (Gomes / Galvão / Moreira)
7. Os 'Pingo' da Chuva (Gomes / Galvão / Moreira)
8. Quando Você Chegar (Galvão / Moreira)
9. Alimente (Pepeu Gomes / Jorginho Gomes)
10. Dagmar (Moraes Moreira)




Fotos:
imagens.us
lastfm.com.br
sebododisco.com.br
sambazul.blogspot.com
oesquema.com.br



Categoria: Música
Licença: Licença padrão do YouTube



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