Por: Gilberto Costa (Correspondente
da EBC). Fonte: Agência Brasil.
Os portugueses estão aproveitando
o carnaval para criticar o governo e a condução da política econômica do país.
Em Torres Vedras – cidade que tem o principal carnaval lusitano, distante cerca
de 50 quilômetros de Lisboa - pessoas fantasiadas, carros alegóricos e
esculturas expressavam mensagens contra os principais dirigentes e a recessão
que atinge Portugal (hoje com mais de 16% de taxa de desemprego).
Até uma chanceler Angela Merkel
em trajes sumários circulou com pose sádica montada em um dragão – a Alemanha é
vista pelos portugueses como a principal avalista na União Europeia da política
de ajustamento econômico que cortou gastos com a seguridade social e a saúde
(redução de pensões e do seguro-desemprego), e elevou o pagamento dos usuários
do sistema nacional de saúde pública pelos serviços prestados.
Além de Torres Vedras, há
carnaval nas cidades de Loulé (que reivindica ser o mais antigo), em Loures, Sines, Mealhada, Figueira e na Ilha
da Madeira (alguns com desfile de escola de samba). Em Lisboa, na sexta-feira
da semana passada (8), alguns ativistas fantasiados para o carnaval foram à
porta do escritório do Fundo Monetário Internacional reclamar dos cortes
orçamentários das políticas sociais.
Fotos: correiobraziliense.com.br
/ ebc.com.br e Agência Brasil
Salvador, BA (da redação do Blog
MUSIBOL)
Além dos políticos, são comuns
personagens das novelas e programas de TV (havia passistas vestidas como a
boneca Emília, do Sítio do Picapau Amarelo). Além disso, a música brasileira
(samba, axé e até sertanejo) era hegemônica nos alto-falantes do centro da
cidade e nas bandas dos corsos que desfilavam, algumas até com gaita de fole.
Entre as mais tocadas, estão
sucessos brasileiros antigos e novos, como Mamãe Eu Quero, Ilariê e Ai Se Eu Te
Pego, além de músicas baianas cantadas por Daniela Mercury, Margareth Menezes e
Ivete Sangalo.
“A lógica é tocar qualquer música
desde que seja quente, dançável e latina. Dentre as músicas com essas
características, a que aparece mais é a brasileira”, disse António Esteveira,
administrador da Promotores, a empresa municipal responsável pela organização
do carnaval.
Poucos políticos foram poupados:
um grande boneco de plástico mostra o presidente Aníbal Cavaco Silva como
pedinte de rua; um passista desfila com carrinho de lixo “não reciclável” com
imagens dos ministros das Finanças (Vitor Gaspar) e dos Negócios Estrangeiros
(Paulo Portas).
Outro carro alegórico transita
com bonecos do ex-primeiro-ministro José Sócrates (hoje na oposição) e do atual
ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, portando diplomas nas mãos
após saírem de uma “maravilhosa máquina de reciclagem” - alusão à supostas
fraudes nos cursos que fizeram na universidade.
“O tom crítico é constante. Nós
nunca deixamos de fazer essa crítica. Todos os pormenores que acontecem na vida
social e política do país são passíveis de serem criticados no carnaval”,
explica António Esteveira.
Segundo ele, o carnaval da cidade
nasceu com o objetivo de fazer sátira política. “O carnaval se implanta no
início da República [1910] por causa de uma elite torrense que tinha gosto em
ridicularizar a Casa Real”, salienta Esteveira.
Além da forte crítica aos
políticos, chama a atenção no carnaval de Torres Vedras a quantidade de
matrafonas (homens vestidos de mulheres) circulando pelas ruas. Conforme
Esteveira, a atitude tem raiz histórica: como a presença das mulheres não era
tolerada na transgressão típica do carnaval, para se formar casais na festa,
era necessário juntar dois homens. “Esses iam aos baús das tias das avós, das
primas, para ver as roupas já usadas, rotas e tal e vestiam-se com aquilo”,
explicou.
Neste ano, um grupo de matrafonas
desfilava em frente ao carro Bataclã do Oeste - referência ao bordel do romance
Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado, que recentemente foi retransmitida por
uma emissora de TV portuguesa.
São esperadas 350 mil pessoas no
carnaval de Torres Vedras até terça-feira. Por causa da crise, a cidade faz o
carnaval com o orçamento mais baixo nos últimos quatro anos (cerca de R$ 950
mil).
De acordo com o Dicionário Cravo
Albin da Música Popular Brasileira, o carnaval do Brasil tem entre as suas
principais origens o entrudo português, brincado na Ilha da Madeira, que
precedia a Quaresma.
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