Por: Camila Maciel. Fonte: Agência
Brasil*.
Foto: blogdolobo.com.br / facebook.com
Serrinha, BA (da redação itinerante
do Blog MUSIBOL)
Cerca de 1 milhão de imagens
referentes a documentos do extinto Departamento Estadual de Ordem Política e
Social de São Paulo (Deops-SP) foram colocadas ontem (1º) para consulta
irrestrita pela internet.
Os arquivos podem ser acessados
no site http://www.arquivoestado.sp.gov.br/memoriapolitica.
O trabalho de digitalização, que
deve continuar, alcançou 10% do total de prontuários preservados.
Apesar de o Arquivo Público
paulista já disponibilizar esses documentos para consulta presencial desde
1994, agora a pesquisa pode ser feita de qualquer lugar do país, bastando
digitar nomes de pessoas que tenham sido fichadas ou de organizações políticas.
O Deops foi um importante órgão de repressão do Estado brasileiro contra grupos
de oposição durante o século 20.
"Estamos diante da ruptura
de um paradigma no Brasil, neste instante. É a primeira vez que os arquivos são
disponibilizados na internet de forma integral, sem qualquer tipo de obstáculo.
Isso permitirá que as pessoas desenvolvam uma análise crítica em torno desse
acervo", disse Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça e presidente da
Comissão de Anistia, durante evento de lançamento.
Para o presidente da Comissão
Nacional da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, que também participou do
lançamento, a consulta dos arquivos na internet representa um avanço
democrático e vai ajudar no trabalho das Comissões da Verdade instaladas no
país.
"A nossa Comissão da Verdade
é a única no século 21. Nós vamos ter acesso a tecnologias que nenhuma das 40
comissões anteriores no mundo tiveram", destacou. Ele disse que cerca de
16 milhões de páginas do arquivo do Serviço Nacional de Informações (SNI)
também estão sendo digitalizadas. "A previsão é que o trabalho seja
finalizado até julho", informou.
O projeto de digitalização de
prontuários e arquivos do Deops é resultado de parceria entre o Arquivo Público
de São Paulo e o projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia, do
Ministério da Justiça. "O trabalho de digitalização continua. Começamos
por uma ordem cronológica de prontuário. Não há um prazo para finalizar, porque
dependemos de parceiros. Esperamos a cada seis meses acrescentar um certo
volume de arquivos", explicou o coordenador do Arquivo Público, Carlos
Bacellar.
O coordenador informou que os
arquivos do Deops paulista referem-se principalmente ao período das décadas
1920 e 1930. Foram incluídos alguns documentos da década de 1940 e arquivos
pontuais das décadas seguintes. "Alguns documentos que já tinham sido
digitalizados nós incluímos. Os arquivos do Departamento de Ordem Política e
Social (Dops) de Santos foram todos digitalizados. "Tem bastante
informação do período da ditadura por causa dos documentos de Santos",
destacou.
O governador Geraldo Alckmin
ressaltou que São Paulo deve servir como exemplo aos demais estados para que
esses documentos ajudem a contar a verdade histórica do país como um todo.
"Esperamos que os demais estados brasileiros façam a mesma coisa.
Preservem os seus arquivos, preservem a sua memória", declarou.
O presidente da Comissão de
Anistia ponderou que muitas informações presentes nos documentos devem ser
confrontadas com relatos das vítimas da repressão. "Nós sabemos que boa
parte desses arquivos revelam um falseamento da realidade. Boa parte dos
arquivos da repressão foram construídos para justificar a violência do estado
autoritário e dentro deles estão muitas mentiras", declarou. Abrão
acredita que a disponibilização dos arquivos representa um avanço também para o
reconhecimento do direitos das vítimas da ditadura militar.
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