Por: Akemi Nitahara. Fonte Agência Brasil
No Senado, de 1987 a 1994 o único
representante negro foi Nelson Carneiro. De 1994 a 1998 assumiu o mandato
Abdias Nascimento e, de 1995 a 2002, a casa contou com Benedita da Silva e
Marina Silva, as primeiras senadoras afrodescendentes do Brasil. Em 2007,
haviam quatro senadores pardos e um preto. Na legislatura atual, entre os 81
senadores, o único que se autodeclara negro é Paulo Paim.
Serrinha, BA (da redação Itinerante
do Blog MUSIBOL)
Foto: Agencia Brasil |
Enquanto no Brasil a proporção de
negros na população ultrapassa os 50%, entre pretos e pardos, na Câmara dos
Deputados a proporção fica em 8,9%, com 46 dos 513 representantes do povo.
Apesar de ruim, o quadro melhorou nas últimas décadas.
De acordo com o primeiro
Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, publicado em 2008, na
legislatura de 1983 a 1987 havia apenas quatro deputados negros. O número
passou para 10 de 1987 a 1991, para 16 entre 1991e 1995 e caiu para 15 entre
1995 e 1998. O levantamento feito com base nos empossados em janeiro de 2007
mostra 11 deputados pretos, dos quais uma mulher, e 35 pardos, com duas
mulheres. A publicação ressalta que 8,9% dos deputados eram negros, quando a
proporção na população em 2006 era 49,5%.
Festa de Nossa Senhora do Rosário, a Padroeira dos Negros. Aquarela de Joham Moritz Rugendas. |
Um dos organizadores do
relatório, o coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas,
Sociais e Estatísticas das Relações Sociais (Laeser) do Instituto de Economia
(IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Paixão, explica
que a análise apresentada no relatório foi feita com base em registro
fotográfico, mas que não houve qualquer contestação ao método ou ao resultado.
“Não há contestação ao fato de
que 92% do Congresso Nacional são formados por pessoas de pele clara, isso é
uma coisa óbvia, você olha do alto do plenário do Congresso e vê os que estão
lá presentes”. De acordo com ele, esse levantamento não foi feito na publicação
seguinte, lançada em 2011, mas a realidade não mudou muito nesse período.
“Talvez não me surpreenderia se a
realidade mostrada em 2008 tenha ficado ainda pior. A gente está começando a
ter uma carência no Brasil de personalidades negras com capacidade efetiva de
se eleger, de terem mais espaço na cena pública, com maior visibilidade. Nomes
como Paim, Vicentinho, Benedita, todos recuaram muito. Veio a figura do Joaquim
Barbosa, mas em outro eixo, uma outra forma, não dá para comparar muito o
contexto. Então, a realidade descrita ali [no relatório] continua válida”.
afirmativas.blogspot.com.br |
De acordo com a deputada federal
Benedita da Silva (PT-RJ), atualmente há 30 negros na Câmara. Para ela, o
problema atual da baixa representação vem de um processo histórico que começou
com a escravidão.
“Mas isso não é uma coisa que a
gente possa construir facilmente. Tem todo um processo que nós entendemos como
sendo fatores que implicaram a pouca presença da comunidade negra,
principalmente nesses espaços políticos, que são espaços de decisões e, sendo
[assim], não são espaços caracterizados para negros ou afrodescendentes”.
Ela lembra das lutas desde Zumbi
dos Palmares, a Revolta da Chibata, a dos Alfaiates e movimentos abolicionistas
que levaram, pouco a pouco, à conquista de espaço.
“Hoje, na República, por exemplo,
nós vamos encontrar o negro não só lutando por sua cultura, por sua identidade,
mas por um espaço mais de poder, mais de decisão. E é evidente que essa
construção está sendo feita. Hoje você tem, são poucos, mas você tem alguns
negros que conseguiram superar essas fases e já estão aí nesses espaços
construindo possibilidades e pautando esse caminho”.
Para a secretária de políticas de
ações afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
(Seppir), Ângela Nascimento, o problema da representatividade é ainda mais
grave entre as mulheres. Ela acha que são necessárias ações afirmativas para
corrigir as desigualdades.
afirmativas.blogspot.com.br |
“A gente compreende que, diante
da participação da população negra, do significado da população negra na
história deste país, é necessário que haja medidas que corrijam a
sub-representação das mulheres negras nos cargos políticos. É fundamental que a
gente atue para que elas tenham uma participação capaz de reverter esse quadro
de desigualdade”.
Segundo levantamento do Instituto
de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj), as mulheres pretas, pardas e indígenas são a maioria entre os
5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos que não trabalham nem estudam no país.
Elas somam 2,2 milhões, correspondente a 41,5% desse grupo. Do total de jovens
brasileiros nessa faixa etária (27,3 milhões), as negras e indígenas representam
8%, enquanto as brancas na mesma situação chegam a 5% (1,3 milhão).
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