Por: Elaine Patricia Cruz. Fonte: Agência Brasil.
Fotos: info.abril.com.br e Ag. Brasil
Salvador, BA (da redação
Itinerante do Blog MUSIBOL)
Um estudo de pesquisadores do Departamento de Farmacologia da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP), pode
ajudar na elaboração de medicamentos mais eficazes - e com menos efeitos
colaterais - para o controle de dores decorrentes de inflamações.
Um artigo sobre a pesquisa, assinado pelos professores Sergio Henrique
Ferreira e Thiago Mattar Cunha, pelo pós-doutor Guilherme Rabelo e pelo
pós-graduando Jhimmy Talbot, todos do Departamento de Farmacologia da
faculdade, foi publicado em junho na revista científica Proceedings of the
National Academy of Science, dos Estados Unidos.
Segundo o professor do Departamento de Farmacologia, Thiago Mattar
Cunha, os pesquisadores trabalham há mais de 20 anos para tentar entender a
gênese da dor, principalmente no caso de origem inflamatória. “Nossa ideia é
que, se conseguirmos entender como a dor aparece e o que está por trás do
surgimento da dor inflamatória, a gente possa, baseado nesse conhecimento,
desenvolver um novo medicamento”, disse Cunha à Agência Brasil.
No estudo, os pesquisadores descobriram que uma proteína, chamada de
fractalcina, está envolvida na ativação das dores crônicas de origem
inflamatória. Se os receptores da proteína forem bloqueados, acreditam os
pesquisadores, as dores inflamatórias, tais como as que ocorrem na artrite
reumatoide, poderão ser controladas.
Em experiência com animais, os pesquisadores observaram que existe um
tipo celular, chamado de células satélites, que estabelecem o último contato
com os neurônios que transmitem a dor. “Nós demonstramos que estas células, que
estão envoltas no corpo desse neurônio e que não tinham uma função patológica
conhecida, são fundamentais para esse processo de dor inflamatória”, explicou.
Além da descoberta da importância das células satélites no mecanismo da
dor, os pesquisadores conseguiram, segundo ele, demonstrar como elas são
ativadas e quem é a responsável por essa ativação: a fractalcina. “Essa
proteína, a fractalcina, é liberada durante o processo inflamatório e ativa
essa célula satélite. Existe um local específico onde essa fractalcina atua,
que chamamos de receptor. A ideia então é desenvolver um fármaco ou uma
molécula que bloqueie esse receptor e que impeça que a fractalcina se ligue a
esse receptor e ative a célula satélite”.
Segundo Cunha, indústrias farmacêuticas já estão desenvolvendo
medicamentos para bloquear o receptor da fractalcina. Mas a ideia do grupo de
pesquisadores da USP é que, em médio prazo, seja criado um remédio para ser
testado contra a dor inflamatória, com menos efeitos colaterais, e que venha,
no futuro, amenizar dores de pessoas que sofrem com artrite reumatoide,
osteoartrite, gota e até traumas cirúrgicos e torções. “O que queremos é
desenvolver fármacos que sejam efetivos no tratamento da dor e que tenham menos
efeitos colaterais para melhorar a qualidade de vida do paciente”, ressaltou.
“Já existem fármacos no mercado
contra a dor inflamatória. Estes anti-inflamatórios que se toma, tal como a
aspirina, são efetivos. O grande problema está relacionado com os efeitos
colaterais que eles apresentam e que tem muito a ver com o sistema
cardiovascular e com o sistema gastrointestinal. São efeitos que limitam a
utilização. Um paciente que tem artrite reumatoide e que vai precisar tomar
medicamento por mais de um ou até 20 anos, ele não vai suportar estes efeitos
colaterais por muito tempo. Nossa ideia é achar um mecanismo importante e, a
partir disto, compor novas drogas para conter esse processo”, disse o
professor.
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