Por: Gilberto Costa. Fonte: Agência Brasil.
Fotos: grupoescolar.com / gruporbs.clicrbs.com.br
Salvador, BA (da redação
Itinerante do Blog MUSIBOL)
A crise econômica em Portugal e outros países do Sul da Europa pode
levar as relações de trabalho no continente a um nível tão precário quanto se
vê em países emergentes, como o Brasil, onde “a precarização das condições da
mão de obra existe desde o início da montagem do núcleo industrial e de
serviços”. O diagnóstico foi feito por Ricardo Antunes, professor titular de
sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).
Para ele, a "financeirização" da economia e a competição
intensa das empresas fazem com que, a cada momento, elas procurem um padrão de
força de trabalho mais precarizada. "Nos anos 1970, nós da América Latina
tínhamos o padrão da classe trabalhadora mais explorado. Ao longo das décadas
seguintes, isso foi mudando para o Continente Asiático”, disse o sociólogo, por
telefone, à Agência Brasil. Segundo ele, agora é a Europa que está vulnerável
ao processo há muitos anos vivido no Hemisfério Sul.
Ricardo Antunes lança em quatro cidades de Portugal (Braga, Porto,
Coimbra e Lisboa), em meados do próximo mês, uma nova edição do livro Os
Sentidos do Trabalho: Ensaio sobre a Negação e a Afirmação do Trabalho, já
publicado no Brasil, na Argentina, Itália, Inglaterra, nos Estados Unidos e na
Holanda. Desde a sua primeira edição (1999), o livro contraria a tese da
diminuição de importância ou mesmo do “fim” da classe trabalhadora, em razão de
mudanças na dinâmica industrial e da incorporação crescente de tecnologia em substituição
ao homem. Nesta edição, a análise se estende às condições de trabalho nos
países avançados.
Segundo Antunes, em vez da extinção há uma “nova morfologia da classe
trabalhadora”, vítima da tentativa de “desregulamentação das relações
trabalhistas” e da “diminuição do welfare state” [estado de bem-estar social].
Esse processo foi acentuado a partir de setembro de 2008 com a crise financeira
internacional.
“Desde 2008, entramos em uma nova era de precarização estrutural do
trabalho em escala global. A tragédia maior do trabalhador europeu é que eles
saem de um patamar muito superior ao nosso e vão declinando ao nível que se
aproxima do nosso”, observou, ao lembrar que os mais novos já não acessam, por
exemplo, o sistema de seguridade social como seus pais, pois o desemprego entre
os mais jovens é maior que entre os mais velhos (cerca de 60% na Espanha e na
Grécia, e 40% em Portugal entre os adultos jovens de 18 a 25 anos).
Entre os mais velhos, o processo é cortar direitos que há pouco tempo
estavam garantidos. “É como se o mundo devesse ser concebido para saque,
devastação e exploração em benefício das grandes transacionais e do capital
financeiro que amarra tudo isso em detrimento das classes trabalhadoras, sejam
elas herdeiras de direitos adquiridos na era do welfare state [a partir dos
anos 1950], ou dos novos trabalhadores como os jovens proletários, às vezes até
pós-graduados, que não encontram trabalho”.
Conforme o sociólogo, o engenho de redução de direitos funciona por meio
das políticas de austeridade fiscal, determinadas pelos programas de
ajustamento da Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e
Comissão Europeia), que Ricardo Antunes chama de “tripé destrutivo”. Ele afirma
que o esforço fiscal corta direitos sociais e garante a remuneração às
instituições financeiras. “Uma parte decisiva do déficit é decorrente de uma
dívida pública que remunera os bancos. Na verdade, é uma política de
salvaguarda do sistema financeiro internacional”.
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