Por: Lucas Rodrigues (Enviado
Especial da EBC) Fonte: Agencia Brasil.
Lançado no dia 3 de fevereiro de
2003, no município com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, o
Programa Fome Zero foi criado com o objetivo de erradicar a miséria, com a
transferência de renda e garantindo o alimento para as famílias que viviam na
extrema pobreza. Hoje, o Brasil ainda tem pelo menos 5,3 milhões de pessoas
sobrevivendo com menos de R$ 70 por mês, diferentemente do início dos anos
2000, quando eram 28 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza.
Mulheres e crianças andavam
quilômetros para conseguir um pouco de água e essa busca, às vezes, durava o
dia inteiro. A dona de casa Gilsa Alves lembra que, naquela época, “era difícil
encontrar água para lavar roupa”, no período de seca. “Às vezes, até para tomar
banho era com dificuldade".
O município conquistou o
principal objetivo: acabar com a miséria. Mesmo assim, ainda está entre os mais
pobres do país e enfrenta o êxodo dos jovens em busca de emprego em grandes
cidades. Segundo o IBGE, entre 2000 e 2007, quase 10% dos moradores deixaram
Guaribas.
Fotos: Agencia Brasil / antonioviana.com.br
/ abresto.blogspot.com.br
Serrinha, BA (da redação do Blog
MUSIBOL)
Nos último dez anos, esse número
vem diminuindo. Em parte, por causa de políticas públicas de ampliação do
trabalho formal, do apoio à agricultura e da transferência de renda. Hoje, a
iniciativa, que ganhou o nome de Bolsa Família, chega a quase 14 milhões de
lares. Ela nasceu do Programa Fome Zero, criado para garantir no mínimo três
refeições por dia a todos os brasileiros. E foi do interior do Nordeste que
essa iniciativa partiu para o restante do país.
Depois de dez anos, a Agência
Brasil voltou a Guaribas, no sul do Piauí, escolhida como a primeira
beneficiária do programa de transferência de renda. Localizada a 600
quilômetros ao sul da capital, Teresina, Guaribas não oferecia condições
básicas para uma vida digna de sua população: faltava comida no prato das
famílias, que, na maioria das vezes, só tinham feijão para comer. Não havia
rede elétrica e poucas casas tinham fogão a gás.
O aposentado Eurípedes Correa da
Silva não se esquece daquele tempo, quando chegou a trabalhar até de vigia das
poucas fontes que eram verdadeiros tesouros durante os longos períodos de seca,
com água racionada. Hoje, a água chega, encanada, à casa dele.
Pai de sete filhos, Eurípedes tem
televisão e geladeira. Além do dinheiro da lavoura e da aposentadoria, ele
recebia o benefício do Fome Zero e agora conta com o Bolsa Família. O benefício
chega a 1,5 mil lares e a meta é alcançar 2 mil neste ano, o que representa
oito em cada dez moradores da cidade. A coordenadora do programa em Guaribas,
Raimunda Correia Maia, diz que “o dinheiro que gira no município, das compras,
da sustentação dos filhos, gera desenvolvimento".
A energia elétrica também chegou
a Guaribas e trouxe com ela internet e os telefones celulares. No centro da
cidade, há uma praça com ruas calçadas e uma delegacia, além de agências
bancárias, dos Correios e escolas. A frota de veículos cresceu e, hoje, o que
se vê são motos, em vez de jegues.
Alan e Rosângela podem ser os
próximos. O Bolsa Família e as melhorias na cidade não foram suficientes para
manter o casal no município, já que ali os dois não encontram trabalho. Os
irmãos já foram para São Paulo e é impossível sustentar a família de oito
pessoas com um cartão (do Bolsa Família) de R$ 130.
Quem escolheu ficar na cidade
sabe que muita coisa tem que melhorar. O esgoto ainda não é tratado; algumas
obras não saíram do lugar, como a do mercado municipal. Até o memorial erguido
em homenagem ao Fome Zero está abandonado há anos. Longe de Teresina, os
moradores se sentem isolados, principalmente por causa da dificuldade de chegar
à cidade mais próxima: são 54 quilômetros de estrada de terra, em péssimo
estado, até Caracol.
Isso torna difícil escoar a
produção de feijão e milho e faz com que todos os produtos cheguem mais caros.
A dificuldade de acesso também prejudica uma das conquistas da região: a
unidade de saúde. A doméstica Betânia Andrade Dias Silva levou o filho de 5
anos para uma consulta e não encontrou médico. Ela desabafa: “É ruim né?!
Principalmente numa cidade pequena, na qual você precisa de um atendimento
melhor, tem que sair para ir para outra cidade, Caracol, São Raimundo, que fica
longe daqui. Por exemplo, caso de urgência, se você estiver à beira da morte,
acaba morrendo na estrada… Então, é difícil".
Há mais de um mês, o atendimento
é feito apenas por enfermeiras e por um dentista. Mesmo oferecendo um salário
que chega a R$ 20 mil, a prefeitura diz que não consegue contratar médicos. O
jeito é mandar os pacientes mais graves para as cidades vizinhas.
Mas essa situação pode começar a
mudar ainda neste ano. Segundo informou a Secretaria de Transportes do Piauí, o
trecho da BR-235 que liga Guaribas a Caracol deve começar a ser asfaltado em
outubro. Por enquanto, está sendo asfaltado outro trecho da rodovia, entre
Gilbués e Santa Filomena.
O casal Irineu e Eldiene saiu de
Guaribas para procurar trabalho em outras cidades, mas voltou. Agora eles
levantam, pouco a pouco, uma pousada no centro da cidade. Irineu diz que a obra
que está fazendo não é “nem tanto pensando no agora”, é para o futuro. “Estou
vendo que a cada ano que está passando, Guaribas está desenvolvendo mais”.
A expectativa de Irineu e Edilene
é resultado da mudança dessa que já foi a cidade mais pobre do país. Mesmo com
dificuldades, os moradores de Guaribas, agora, olham para o futuro com mais
esperança e otimismo. Eldiene garante que vai ficar e ver a pousada cheia de
clientes.
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