Por: Wellton Máximo. Fonte:
Agência Brasil.
Fotos: panoramabrasil.com.br / brasildiario.com
Serrinha, BA (da redação itinerante
do Blog MUSIBOL)
A redução a zero dos tributos
federais sobre os produtos da cesta básica está longe de representar a extinção
do peso dos impostos sobre os alimentos. Apesar de não recolher mais tributos
ao governo federal, cada vez que compra comida, a população continua a
contribuir para os estados, por meio do Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços (ICMS).
De responsabilidade dos
governadores, o ICMS responde por 45% dos tributos que incidem sobre os
alimentos, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp). A alíquota padrão corresponde a 17% ou 18% conforme o estado de origem,
mas algumas unidades da Federação chegam a estabelecer mais de 40 alíquotas
diferentes para esses produtos.
“O ICMS incide de forma desigual,
o que resulta num sistema confuso e em alta carga tributária sobre os
alimentos”, avalia o gerente do Departamento de Agronegócio da Fiesp, Antonio
Carlos Costa. Na Europa, ressalta ele, os impostos representam, em média, 5,1%
do preço da comida. Nos Estados Unidos, onde 34 estados não tributam os
alimentos, a carga tributária sobre o setor corresponde a apenas 0,7%.
Representantes de entidades
ouvidas pela Agência Brasil cobraram não apenas a simplificação das alíquota,
mas também a desoneração da cesta básica pelos estados. Segundo eles, existe
clima político favorável à medida, o que contribuiria para reduzir a desigualdade
do sistema tributário brasileiro ao aliviar o peso dos impostos sobre a
população de menor renda.
Diretor técnico do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz
Lúcio explica que a maioria dos tributos no país incide sobre o consumo, o que
pune a população mais pobre. “Quem ganha menos, proporcionalmente paga mais
imposto do que os mais ricos, principalmente ao consumir produtos básicos, de
que não pode abrir mão”, destaca.
Enquanto a população que ganha
até dois salários mínimos gasta cerca de 30% da renda com a compra de
alimentos, quem recebe acima de 25 salários mínimos desembolsa de 10% a 12%, em
média. “A desoneração da cesta básica em nível estadual é uma forma de justiça
fiscal porque barateia os produtos que mais impactam a mesa do trabalhador,
combatendo a inflação e aumentando a renda disponível dessas famílias”, destaca
Lucídio Bicalho, assessor técnico do Instituto de Estudos Socioeconômicos
(Inesc).
Por se tratar de um imposto de responsabilidade
dos estados, a cobrança de ICMS sobre a cesta básica reflete ainda diferenças
regionais que agravam a desigualdade do sistema tributário. A farinha de
mandioca tem o ICMS zerado nas compras e vendas internas no estado de São
Paulo, onde o alimento não faz parte da dieta de boa parte da população. O
imposto, no entanto, incide em estados onde o produto é considerado alimento
essencial. A alíquota soma 12% no Amapá, no Piauí e em Minas Gerais, e 7% na
Bahia.
0 comentários:
Postar um comentário