Por: Camila Queiroz. Fonte e fotos: Ibahia.
Edição: Jorge Luiz da Silva
Salvador, BA (da redação Itinerante do Blog
MUSIBOL)
Imagens: fbexternal-a.akamaihd.net
“Em todos os sentidos nós somos uma religião de
resistência”, desabafa a religiosa, que está à frente da associação de
terreiros
De fala firme, mas ao mesmo tempo tranquila, mãe Iara de
Oxum abriu a porta de seu terreiro, Ilê Tomim Kiosise Ayo, localizado em
Cajazeiras XI.
O nome do terreiro foi dado, segundo a mãe de santo, por
Oxum e significa Casa das Águas da Felicidade. “E graças a Deus, todo mundo
aqui é feliz, inclusive a mãe de santo”, disse sorrindo.
Hoje, mãe Iara de Oxum já tem 20 anos de casa aberta e
tem 43 iniciados.
Com 46 anos, a ialorixá (ou zeladora, como se define) que
nasceu em Salinas da Margarida, transmite através de seu sorriso o orgulho que
tem de ser do candomblé e fala como esta religião pode ser considerada uma
forma de resistência do povo negro na Bahia.
E não é só do seu terreiro que mãe Iara de Oxum toma
conta.
Ela também está à frente da Associação Pássaros das
Águas, que reúne de 15 a 20 terreiros de candomblé e promove atividades para o
povo de santo e para a população de Cajazeiras, como o Barracão Negra Fashion,
que trabalha a autoestima e a conscientização de adolescentes negros, e a
Caminhada da Pedra de Xangô, cuja quinta edição acontece no dia 9 de fevereiro
do ano que vem.
Ao falar de resistência, mãe Iara de Oxum é convicta: “em
todos os sentidos nós somos uma religião de resistência”. Para isso, ela fala
sobre o passado. “O negro veio de sua terra […], ele foi escravizado, ele foi
para o tronco, ele tomava chicotada, ele foi proibido literalmente de exercer a
sua religião dentro dos canaviais, dentro dos engenhos […] Foi imposto ao
negro, ser batizado pela Igreja Católica. Mas mesmo assim, sendo chicoteado,
ele botava o otá do santo dele debaixo da marquise, sempre escondendo dos
senhores de engenho […], mas ele resistiu”, afirma.
Além de histórica, a resistência também acontece no dia a
dia.
Para Mãe Iara de Oxum, o povo de santo resiste ao sair
com os seus adereços, com as suas contas, mesmo quando há pessoas que torcem a
boca e falam “tá amarrado em nome de Jesus”. Ela também cita a resistência a
evangélicos que, segundo ela, batem na porta do terreiro de candomblé querendo
evangelizá-los. “É o absurdo dos absurdos”, diz.
A discriminação, para a mãe de santo, é uma das maiores
dificuldades enfrentadas pelos terreiros de candomblé.
Com um olhar profundo, ela fala que ainda existe nas
escolas pessoas que apontam e falam “você é do candomblé” e que ainda sofrem
intolerância religiosa.
Segundo mãe Iara de Oxum, ainda existe um receio dos
filhos serem excluídos da escola e de uma sociedade que ainda tem esse
preconceito. “A maior dificuldade hoje é a liberdade. A maior dificuldade que a
gente tem é 'me respeite', sabe? […] Porque o financeiro toda religião tem
[...] O preconceito, a discriminação, ainda é um dos nossos piores problemas”,
desabafa.
A Pedra de Xangô
Quem passa pela avenida
Assis Valente já deve ter se deparado com uma grande pedra, que tem uma árvore
próximo ao seu topo.
Esta pedra tem um
significado especial para o povo de santo.
Mãe Iara de Oxum fala sobre
essa pedra no vídeo abaixo.
Segundo ela, um jogo de ifá
apontou Xangô como o orixá dessa pedra, chamada atualmente de Pedra de Xangô ou
Altar de Xangô.
Entretanto, quando foi construída a avenida Assis
Valente, a qual foi inaugurada em 2005, a pedra ficou em evidência e surgiu o
medo de que, com a especulação imobiliária, ela seja implodida.
Segundo a zeladora, a Caminhada da Pedra de Xangô surgiu
com o propósito de pedir o tombamento do monumento, solicitação que já foi ao
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Confira o vídeo
Mãe Iara de Oxum - Especial Consciência Negra
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