Por: Camila Jasmin. Fonte: Correio 24 horas
Edição: Jorge Luiz da Silva
Salvador, BA (da redação Itinerante do Blog
MUSIBOL)
Segundo a própria Simone, o disco ficou
“redondinho”
“É
melhor ser! E já dizia Vinicius: melhor ser alegre que ser triste”.
Assim
sentencia Simone, definindo o seu atual momento: 63 anos, 40 de carreira e
disco novo na praça, com o sugestivo título de É Melhor Ser, que homenageia as
compositoras da sua geração.
Um
desfile de ícones da MPB:
Angela
Ro Ro, Rita Lee, Adriana Calcanhotto, Joyce, Fátima Guedes, Dona Ivone Lara,
Marina Lima, Teresa Cristina, Joanna, Sueli Costa e Alzira Espíndola.
“Uma
delícia fazer esse trabalho, ficar madrugadas ouvindo, pesquisando,
descobrindo...”. Para facilitar a escolha do repertório, foi estabelecido um
recorte nos anos de 1973 a 2000, “porque, senão, não dava. Elas têm muitas
canções maravilhosas e, na hora de decidir mesmo, tiveram momentos doloridos,
de não querer abrir mão”, conta, com algum pesar.
Mas,
segundo a própria Simone, o disco ficou “redondinho”. “Eu adoro o disco. Defino
como musical, com contornos femininos; tão cheio de curvas e todo amor”.
De
fato, o amor parece ser o fio condutor ao longo das 13 faixas. “É amor de cabo a rabo; da unha encravada à
calvície”, brinca a cantora. Ela compara as canções a um saveiro atravessando o
mar, como no tempo em que era criança e costumava passear em Mar Grande, na
Ilha de Vera Cruz, refúgio baiano. “É como uma travessia mesmo; tem suas
calmarias e seus ventos”.
A
primeira faixa, A Propósito, já anuncia a essência de Simone: “Uma pessoa é o
que a sua voz é”, diz o primeiro trecho da canção; na verdade, uma carta
assinada pela grande Fernanda Montenegro e que Simone musicou. “Eu botei a
carta presa na parede do meu escritório. Um dia, numa dessas noites sem sono,
estava lendo e a leitura veio em forma de mantra; já veio com a música”,
lembra. E revela que, nessa mesma madrugada insone, compôs a melodia de Só Se
For, um bolero com letra de Zélia Duncan.
Parceria
A
relação com Zélia começou anos antes, em 2008, quando se juntaram para gravar o
elogiado DVD Amor É Casa. “É uma pessoa que transita num universo maravilhoso,
porque tudo o que ela faz, faz bem; é uma cantora muito boa e uma compositora
maravilhosa. Então, ela se somou na minha vida”.
De
gerações distintas - Zélia lançou seu primeiro disco em 1990 -, o encontro
entre as duas renovou Simone - “A gente abriu os braços uma pra outra. Ela veio
com um vigor e um frescor maravilhosos” - e prosperou uma amizade que, além de
render músicas, foi importante na seleção do repertório de É Melhor Ser, o qual
Zélia ajudou a polir. Foi ela que, inclusive, sugeriu a gravação de Mulher o
Suficiente, de Alzira Espíndola (com Vera Lúcia Motta) que, ao lado de Teresa
Cristina (Trégua Suspensa), está entre as duas únicas compositoras do álbum que
Simone nunca havia gravado.
Samba
Natural de Salvador, ela
conta que cresceu ouvindo a trilha sonora de seu pai: Cauby Peixoto, Angela
Maria, Orlando Silva, Orlando Dias... “Essa era a minha formação musical.
Sempre foi e é o que eu trouxe”.
A cantoria sempre se fez
presente em sua casa. “Minha mãe tocava piano e violão, gostava de cantar. Meus
irmãos e irmãs, principalmente, gostavam de cantar também. Então, eu nunca me
desliguei disso”.
Mas seu xodó mesmo era o
samba de roda. “É que eu tenho uma coisa com o samba; gosto da pegada”.
Tombado como Patrimônio da
Humanidade, o samba de roda não está no
disco, apesar de ter, sim, samba com Acreditar (Dona Ivone Lara e Délcio
Carvalho), a já citada Trégua Suspensa e ainda uma versão ritmada em pandeiro de
Aquele Plano para me Esquecer (Adriana Calcanhotto). Mas, no show, Simone fez
questão de incluir o gênero com Pra Lavar o Siri, um clássico da Bahia,
cadenciado na palma da mão, como tem que ser. “Essa música a gente ouvia no
Mercado Modelo e cantava desde pequena, como Que Navio É Esse”, lembra em tom
saudosista.
Reencontro
A infância em Salvador foi
em Itapagipe. “Amava! Vivia na Sorveteria da Ribeira, adorava coco espumante”.
Aos 16, mudou-se com os pais para São Caetano do Sul, interior de São Paulo.
“Foi uma mudança radical na minha vida. Nunca me acustumei a morar lá. Era
muito frio e eu não gosto de frio”. Pois mudou-se pros 40 graus do Rio de
Janeiro, onde construiu sua carreira. E por lá permanece.
Mas a família ainda mora
por aqui. “Éramos nove irmãos; perdi um em 2006. Três moram na Bahia e ‘não sei
quantos sobrinhos’. Já tenho até sobrinho-neto”, conta ela que, aos 10, já era
tia. “Baiano não dorme; é muito marisco pra dar conta”, afirma, caindo na
gargalhada.
Sempre que pode, ela dá um
pulo por aqui, mas prefere seguir, do aeroporto, direto para o litoral.
“Imagina, sair de uma cidade grande pra outra?!”. Seu destino costuma ser as
praias de Guarajuba, Diogo e Massarandupió.
Mas aportará por aqui dias
antes de sua apresentação no Teatro Castro Alves, dia 6 de dezembro. “Quero
poder ter tempo, fazer um tour pela minha infância, passear um pouco e, depois,
vou cantar”.
No cardápio, já está
garantido o lugar cativo do abará. “Pago uma penitência que é uma loucura, mas
eu insisto. E sempre trago pro Rio. É um pedaço da Bahia aqui”.
Aproveitando a proximidade
dos festejos natalinos, ela ri da eterna polêmica em torno do seu álbum 25 de
dezembro (1995) e do clássico Então é Natal. “Já fizeram de tudo comigo por
causa dessa música. Até me mataram!”, brinca.
Nascida no dia da festa
cristã, ela endossa: “Grandes artistas, como
Frank Sinatra e Nat King Cole, fizeram discos de Natal com muito
orgulho. E eu acho o meu ótimo”.
DISCO
É
Melhor Ser
Artista
Simone
Produção
Bia
Paes Leme e Leandro Braga
Gravadora
Biscoito
Fino
Preço
R$
29,90
Show - É Melhor Ser
Direção
Christiane Torloni
Local
Teatro Castro Alves (Praça Dois de Julho, Campo Grande)
Data 6 de dezembro, 21h
Ingressos
R$ 120/R$ 60 (filas A a W); R$ 100/R$ 50 (filas Y a Z8) e R$ 60/R$ 30 (filas Z9
a Z11)
Vendas
na bilheteria do TCA e nos balcões do SAC nos shoppings Barra e Iguatemi
Informações
(71) 3117-4899
Fotos:
salvearainha.com
musicabrasileira.org
vagalume.com
terra.com.br
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