Edição: Jorge Luiz da Silva
Salvador, BA (da redação Itinerante do Blog MUSIBOL)
A Anistia Internacional começou hoje
(6) a campanha "Escreva por direitos" que até o dia 16 de dezembro
vai fazer ações em várias cidades do Brasil como São Paulo, Fortaleza,
Curitiba, Belém, Manaus, Goiânia, Brasília, Niterói, Salvador e Dourados (MS) e
em diversos países.
No Rio de Janeiro, voluntários da
Anistia vão colher até amanhã (7), na Praça São Salvador, em Laranjeiras, na
zona sul da cidade, assinaturas e incentivar as pessoas a participarem da
Maratona de Cartas. Nela, quem quiser pode enviar mensagens para autoridades de
países onde ocorrem casos de violação dos direitos humanos e ainda para a
família de pessoas que sofreram violência.
Este ano, a campanha que começou em
2001, destacou seis casos de violação, dois deles ocorreram no Brasil. Um é
sobre o assassinato de jovem negro por policiais militares na Bahia e o outro
em comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul. No exterior, a entidade
ressaltou os casos de um militante dos direitos LGBT (lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais), que sofreu agressões na Bielorrússia, a
prisão de um ativista por moradia no Camboja, o estupro e a tortura de uma
mulher no México e o espancamento de um jovem durante manifestação na Síria.
No ano passado, cerca de 500 mil
pessoas participaram da maratona, em 77 países. Foram escritas 1 milhão e 900
mil cartas. O artista plástico, André Amaral deixou a sua assinatura. Para ele,
é importante participar porque é preciso chamar a atenção para o desrespeito
aos direitos humanos e fazer pressão nas autoridades para a solução do caso.
"Eu tenho essa esperança, mas
questões dos direitos humanos e individuais estão ficando, cada vez mais, tão
complicadas que temos que ter outros instrumentos de pressão, além desse, para
que as coisas aconteçam, no sentido da igualdade, da justiça, dos direitos
assegurados para diferentes camadas da população", explicou.
Outro que fez questão de assinar a
lista da Anistia foi o músico espanhol Ricardo Muñoz, morador de Barcelona, que
está no Rio a passeio. Ele disse que quis participar para dar voz a outros que
não podem fazer com que os seus casos sejam divulgados. "Sempre é positivo
que alguém pressione os governos para a busca de soluções", contou.
O cientista político e assessor de
Direitos Humanos da Anistia, Maurício Santoro, informou que a campanha ocorre
nos países onde a Anistia Internacional está presente e representa o maior
evento mundial de direitos humanos. Ele destacou que para quem sofre com as
violações o recebimento das correspondências representa um apoio. "É uma
carta de solidariedade, na qual o ativista expressa um sentimento de apoio e de
fraternidade para uma pessoa que está sofrendo uma situação de ameaça ou à
família", acrescentou.
Para Maurício Santoro, é preocupante
o caso dos índios guarani-kaiowás que vivem às margens da Rodovia BR-463, entre
as cidades de Dourados e Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, que lutam para
conseguir a demarcação das terras que consideram ser de seus ancestrais. Por
isso, são ameaçados por seguranças de fazendeiros e vivem uma situação de
suicídios. "Foram mais de 300 guarani-kaiowás assassinados nos últimos dez
anos e, além disso, eles vivem uma epidemia de suicídios, mais ou menos um por
semana ao longo dessa década, o que é muito numeroso para uma comunidade que
tem cerca de 50 mil pessoas", declarou.
O advogado Alexandre Ciconello,
também assessor de Direitos Humanos da Anistia, acompanha de perto o caso do
baiano Jorge Lázaro que, em janeiro de 2008, teve o filho Ricardo assassinado
quando jogava futebol em Salvador. Ele explicou que as investigações apontam
para a participação de policiais militares. Em março deste ano, Jorge Lázaro
perdeu mais um filho, Ênio, que desapareceu e depois foi encontrado morto com
marcas de violência.
"A família sofreu ameaças,
entrou para o Programa de Proteção de Testemunhas e isso desestruturou a
família. Foram denunciados três policiais militares. E o outro filho foi
assassinado em circunstâncias que a gente não sabe porque não foi feito nenhum
tipo de investigação. Ao lado do grande número de homicídios tem a grande
impunidade", disse.
De acordo com dados da Anistia cerca
de 77% dos jovens assassinados no Brasil são negros e mais de 90% dos
inquéritos de homicídios são arquivados antes de se tornar denúncia.
Segundo a Anistia Internacional, não
foi por acaso que foi escolhido este período para fazer a maratona. Quando
lançou a Declaração Universal sobre Direitos Humanos, a Organização das Nações
Unidas (ONU) instituiu o dia 10 de dezembro como o Dia Internacional dos
Direitos Humanos. As ações da Maratona de Cartas podem ser acompanhadas no site
maratonadecartas.org.br.
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