Por: Mariana Tokarnia. Fonte e fotos: Agência Brasil.
Edição: Jorge Luiz da Silva
Salvador, BA (da redação
Itinerante do Blog MUSIBOL)
Recém-chegados no último fim de semana, os seis médicos cubanos do Mais
Médicos aproveitaram o dia para conhecer os colegas com quem irão trabalhar, os
postos de saúde onde atuarão e a casa em que irão morar em Chapadinha, no
interior do Maranhão. A cidade foi a que mais recebeu médicos cubanos pelo
Programa Mais Médicos, no total seis.
Eles ainda aguardam o registro provisório, que será emitido pelo
Conselho Regional de Medicina. A expectativa é que comecem a atender na próxima
semana.
Chapadinha tem 76 mil habitantes, segundo estimativas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, de acordo com a
Secretaria Municipal de Saúde, a cidade atende a mais 16 municípios vizinhos,
totalizando 350 mil pessoas. A cidade dispõe de um hospital e 14 postos de
saúde. O corpo médico atual soma 32 profissionais, que se dividem entre a
atenção básica e a especializada.
Com a chegada dos cubanos, os profissionais poderão voltar-se à atenção
especializada, já que os estrangeiros se ocuparão da atenção básica. "A
gente vai conseguir levar para a população a assistência médica e bloquear a
ida dos pacientes para o hospital por problemas que possam ser resolvidos no
posto de saúde perto da casa dele", explica o secretário de Saúde, Charles
Bacelar. "Temos no hospital, um grande número de internações relacionadas
à atenção básica".
O dia de hoje (23) começou com uma reunião. Bacelar explicou aos médicos
como e onde irão atuar. Em seguida, cada um deles conheceu a futura sala de
atendimento.
O médico Juan Montero terá de dividir a sala com a enfermeira brasileira
Nitheyanna dos Santos. O posto de saúde de Bairro Novo é o que está em piores
condições. O teto e as paredes estão com infiltrações. Na sala de atendimento,
apenas uma mesa, uma cadeira, e uma maca. A cadeira, quebrada. O local atende
mil famílias. A prefeitura diz que já solicitou uma reforma.
"Aqui é mais ou menos parecido com o meu país, com o meu
consultório", diz Montero. A partir da semana que vem, ele pretende
acompanhar as visitas dos agentes comunitários.
"Primeiro, vamos apresentar a população para ele, para poder passar
confiança. Ele está chegando agora e algumas pessoas ainda estão
desconfiadas", diz Nitheyanna. Ela diz que vai ajudar o futuro colega com
o português: "Os pacientes têm a linguagem deles. Chegam dizendo que estão
com dor na bacia, nos quartos. Tem vezes que nem a gente entende. Temos que
pedir para eles mostrarem onde é a dor".
No posto, a procura por consulta é disputada. Com apenas um médico duas
vezes por semana, as consultas são todas agendadas. "Já teve até briga.
Chegou um senhor procurando consulta e só tinha para o fim do mês. Ele ficou
bravo e voltou com uma faca. Tivemos que conversar bastante com ele para se
acalmar". O médico cubano irá trabalhar 40 horas semanais. Com isso, os
pacientes serão atendidos por ordem de chegada.
Já o posto de saúde de Areal foi recentemente reformado. Juan Carlos
Rojas terá uma sala só para ele. O número de pacientes, no entanto, é maior,
são 4 mil famílias cadastradas. Lá, a visita à comunidade é obrigação. Um ou
dois dias da agenda do médico serão dedicadas às visitas aos pacientes acamados
que não têm condições de ir ao posto e às famílias, para dar orientações.
"O atendimento domiciliar é como a gente trabalha com a prevenção.
É quando conhecemos a família, a área", explica a enfermeira Cleomara
Caldas.
Na cidade, a maior parte das doenças pode ser evitada com a mudança de
hábitos da população, de acordo com a secretaria de Saúde. No entanto,
Chapadinha não tem saneamento básico adequadom, e grande parte das doenças está
relacionada com a água. A Pesquisa Saneamento Básico de 2008 do IBGE mostra que
17 mil casas tem água encanada, porém nenhuma conta com tratamento de esgoto.
Após as visitas, os médicos foram encaminhados à casa onde ficarão
hospedados. O local ainda está recebendo os últimos reparos. Pelas regras do
Mais Médicos, o município deve arcar com a alimentação e hospedagem. A
prefeitura optou por comprar os alimentos e abastecer a casa. A prefeita Maria
Ducilene Cordeiro diz que estuda um valor para repassar diretamente aos profissionais,
mas ainda não tem uma estimativa.
A casa tem três quartos. Um deles é ocupado por Aicza Madelaine. Dois
médicos dividem um cômodo e mais três, outro. A médica diz que pode ser
"complicado" conviver com cinco homens por três anos - tempo de
duração do programa. Já os rapazes queixam-se do quarto compartilhado.
A
prefeitura informou que está preparando uma segunda casa, para melhor
acomodação.
Durante a semana, os médicos devem se ocupar em conhecer a população. A
orientação é que façam palestras nos postos onde irão trabalhar.
A dona de casa Maria da Silva Araújo sofre de pressão alta, por isso vai
ao médico uma vez a cada três meses para pegar a receita do remédio controlado.
Com a chegada dos novos médicos, espera melhora no atendimento. "Vai ser bom,
os médicos daqui, maioria vem de fora, as pessoas ficam sem médico. Graças a
Deus, vai ficar melhor", diz Maria, que cuida de seis netos.
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