Por: Carmen
Vasconcelos. Fonte: Ibahia.
Fotos: veja.abril. / lh3.ggpht/ homemmoderno / meionorte.com
Edição: Jorge Luiz da Silva
Serrinha, BA (da redação
Itinerante do Blog MUSIBOL)
Câncer de pênis é uma doença
social e está basicamente ligada às condições de saúde e higiene
Todos os anos, cerca de mil
brasileiros são submetidos a amputação do pênis. De acordo com dados do Sistema
Único de Saúde, a mutilação é causada pela falta de cuidados que faz com o que
o Brasil ocupe um dos primeiros lugares em câncer de pênis no mundo, perdendo
para a Índia e alguns países do continente africano.
Para tentar mudar esse quadro e
chamar atenção da população para medidas simples que podem evitar a amputação e
o câncer, como a limpeza com água e sabão, a Sociedade Brasileira de Urologia
(SBU), em parceria com o Instituto Lado a Lado pela Vida, realizará, de 26 a 29
de setembro, a Campanha Nacional chamada Câncer de Pênis Zero.
A quarta edição da iniciativa
conta com textos explicativos no portal da SBU (www.sbu.org.br), posts de
orientação no Facebook (www.facebook.com/SociedadeBrasileiraUrologia) e ações
de atendimento ao público em cidades do Norte e Nordeste, regiões de maior
incidência do problema. A campanha tem como padrinho o ex-jogador de futebol
Zico, atual técnico do Al-Gharafa
(Qatar).
Campanha
De acordo com o urologista e
coordenador da campanha na Bahia, Marcelo Brandão, o câncer de pênis é uma
doença social e está basicamente ligada às condições de saúde e higiene.
“Com água e sabão e os cuidados
de limpeza na glande (também conhecida como cabeça do pênis) e no prepúcio (que
é a pele que recobre o pênis), o câncer e as amputações poderiam ser evitados”,
completa o médico, ressaltando que, entre os circuncidados, como é o caso dos
judeus nascidos em Israel, as taxas da doença chegam a quase zero.
“Uma pesquisa realizada pela Sociedade
Brasileira de Urologia no Maranhão, por exemplo, mostrou que, de cada 100
pacientes operados de fimose, 30% tinham câncer de pênis nos estágios
iniciais”, completa o médico, ressaltando que, no estado, a campanha vai se
concentrar na sensibilização dos profissionais que atuam nos postos de saúde e
no Programa de Saúde da Família para alertar a população sobre os cuidados.
“Em cidades do interior como
Maragogipe, Cachoeira e São Felix já existe um trabalho constante de
sensibilização da população, realizado ao longo de 15 anos. Na capital, estamos
fechando uma parceria com o Hospital Aristides Maltez”, completa.
Parceiros
A falta de higiene e limpeza não
afeta apenas a saúde de quem descuida da saúde íntima, as lesões no pênis
também facilitam o desenvolvimento de doença nos parceiros, facilitando,
inclusive, a transmissão do papiloma vírus humano (HPV), principal responsável
pelos cânceres de colo de útero, vagina, ânus, pênis e orofaringe (boca e
garganta).
Nos últimos dez anos, inclusive,
o câncer de orofaringe causado pelo HPV superou aqueles causados pelo tabagismo
e pelo álcool, entre os menores de 50 anos.
“Infelizmente, na maioria dos casos, os homens
não apresentam sintomas, por isso mesmo, não sabem que estão servindo como
vetores de disseminação e contágio”, esclarece o diretor médico do Centro de
Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana (Ceparh) e ginecologista, Jorge
Valente.
O cirurgião de boca e pescoço
Ivan Agra lembra que os cânceres de orofaringe são mais comuns no público
masculino. “Para cada mulher com a doença, existe cerca de quatro homens com o
mesmo problema”, salienta o especialista, lembrando que, apesar da resistência
cultural, é fundamental não abrir mão do preservativo, mesmo durante as
preliminares.
No caso do sexo oral, a dica dos
especialistas é apostar nos produtos com sabor, que poderiam ser usados como
aliados para assegurar que prazer e segurança andem sempre muito próximos.
Sexo
Para assegurar a saúde da boca e
garantir o tratamento rápido, Ivan Agra defende que as pessoas realizem
periodicamente o autoexame da boca, verificando qualquer lesão na área.
“Feridinhas que não cicatrizam,
dor para engolir que ultrapassa o período de três semanas merecem atenção
especial e, nesses casos, o indivíduo deve procurar um médico o mais rápido
possível”, pontua.
Marcelo Brandão ressalta que o
câncer de pênis é tratável em suas fases iniciais. “Além da higiene diária,
feita sempre após as relações sexuais e a masturbação, é importante que os
homens estejam atentos para qualquer perda de sensibilidade, coceira, lesões
esbranquiçadas e aumento de gânglios (ínguas)”, explica o médico, salientando
que o câncer de pênis tem um impacto muito significativo na vida das famílias.
“Vivemos um modelo patriarcal na
sociedade e, geralmente, quando o câncer gera a amputação parcial ou total,
esse homem tende a desenvolver outras doenças, como o alcoolismo e a
depressão”, complementa o urologista.
Ele lembra que, mesmo quando a
amputação é parcial, o aspecto psicológico das relações sexuais termina sendo
comprometido. “Geralmente esse homem não consegue executar a penetração e nem
atingir o orgasmo”, esclarece o médico, ressaltando que é retirado cerca de 2 centímetros do pênis.
O médico chama a atenção que, no
caso das relações homem e mulher, é necessário um mínimo de seis a sete
centímetros para proporcionar o prazer da parceira.
Para Marcelo Brandão, a
informação e a educação desde a infância poderiam mudar o quadro atual. “A
prevenção será sempre melhor que o tratamento”, finaliza Brandão.
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