Por: Paulo Virgilio. Fonte: Agência Brasil
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Edição: Jorge Luiz da Silva
Salvador, BA (da redação Itinerante
do Blog MUSIBOL)
Desde o início da semana, vários eventos em instituições
culturais do Rio de Janeiro comemoram o centenário de Vinicius de Moraes. Na
quarta-feira (16), o Museu da Imagem e do Som (MIS) promoveu o seminário
Vinicius Centenário: Poeta, Compositor, Homem do Mundo, no auditório de sua
sede, na Praça XV, no centro do Rio.
Planejado há dois anos, o seminário teve como curadora a
presidenta do MIS, Rosa Maria Araújo, e reuniu especialistas, parceiros e
pessoas que conviveram com o "Poetinha". Para ilustrar o convite para
o evento, os organizadores escolheram um trecho da letra do Samba da Benção, de
Vinicius e Baden Powell: "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto
desencontro pela vida".
De manhã, a partir das 10h, a primeira mesa discutiu Vinicius
na literatura, tendo como participantes o editor Eduardo Coelho, um dos
organizadores do arquivo literário do poeta, que hoje está na Casa de Rui
Barbosa, o poeta Geraldo Carneiro e o pesquisador Miguel Jost. A mediação foi
do jornalista Flávio Pinheiro.
Na parte da tarde, foram duas as mesas-redondas. A primeira
discutiu Vinicius na música, reunindo o compositor e parceiro Carlos Lyra, a
cantora Miucha, o jornalista João Máximo e a escritora Cláudia Matos, com a
mediação a cargo da jornalista Maria Lúcia Rangel.
“Eu conheci Vinicius de Moraes desde sempre. Ele era amigo de
meu pai [o historiador Sergio Buarque de Hollanda], viu a gente nascer e era
uma presença muito constante nas nossas vidas. Era uma alegria quando Vinicius
chegava à nossa casa”, lembrou Miucha. “Com a maior paciência, ele me ensinou
os primeiros acordes de violão. Vinicius conhecia música, tinha uma
musicalidade muito grande, suas harmonias eram corretíssimas. Acho que se ele
não tivesse encontrado tantos parceiros formidáveis pela vida, teria
desenvolvido mais esse lado [de compositor]”, disse a cantora, que nos anos 70
fez shows ao lado de Vinicius.
Para o parceiro Carlos Lyra, além de uma acentuada
musicalidade, Vinicius também enxergava possibilidades teatrais nas
composições. Foi o que ocorreu quando o parceiro Lyra entregou, para que ele
fizesse as letras, as músicas que acabariam se tornando o repertório da comédia
musical Pobre Menina Rica. “Com essas musiquinhas aqui, parece que você me quer
contar uma historinha. A primeira parece um cara cantando uma canção para a sua
amada. Olha a segunda: vê se já não é a amada respondendo à canção do cara. Você
escreveu uma comediazinha musical e não se deu conta”, disse Vinicius, em uma
das várias histórias lembradas por Carlos Lyra.
A terceira mesa, a partir das 16h, teve como tema Vinicius
Homem do Mundo e foi o espaço para uma discussão sobre as diversas facetas do
poeta e os traços marcantes de sua personalidade. A trajetória do Vinicius
diplomata foi abordada pelo embaixador Marcos Azambuja, colega do poeta no
Itamaraty. O cineasta Miguel Faria Jr., autor do documentário Vinicius, e a
jornalista Gilda Mattoso, última mulher do poeta, também participaram da mesa,
mediada pelo jornalista Zuenir Ventura.
“Vinicius odiava gente mal-humorada. Ele costumava dizer que
preferia uma pessoa mau-caráter a uma pessoa sem humor”, disse Gilda, que
também fez um relato dos problemas de saúde que afetaram o poeta em seus
últimos anos de vida, e da resistência dele em seguir os tratamentos. “Após o
derrame, ele começou a me apresentar para todo mundo como viúva. Achava aquilo
terrível, afinal eu estava apaixonada. Mas depois passei a gostar, porque eu
pensava que ele queria ficar comigo a vida inteira”.
O MIS abriga hoje em seu acervo 24 coleções, de compositores,
gente da música, fotógrafos como Augusto Malta, pesquisadores e colecionadores,
além do que a própria instituição produziu, a série Depoimentos para a
Posteridade. “A série soma hoje mais de mil depoimentos, e um deles é o do
Vinicius de Moraes. Ainda era na época do depoimento em áudio, em fita de rolo,
depois em fita cassette. No depoimento dele, que é maravilhoso, você ouve o
barulhinho do gelo no copo, porque ele deu o depoimento tomando uísque, que
para ele era o melhor amigo do homem, o 'cachorro engarrafado'", disse a
presidenta do MIS.
Segundo Rosa Maria Araújo, nas coleções que integram o
acervo, Vinicius está presente em fitas de áudio, discos, partituras, textos,
fotos, recortes de jornal, vídeos e filmes. Na futura sede do MIS, que será
inaugurada no fim de 2014 na Avenida Atlântica, em Copacabana, o Poetinha terá
um grande destaque. "Nós vamos ter 13 temas na exposição permanente, entre
eles o humor, o carnaval, Carmen Miranda, a paisagem carioca. O segundo andar
será todo dedicado à música, com a história do samba, do choro e da bossa nova,
do rádio e nisso o Vinicius de Moraes vai entrar o tempo todo”, informou a
presidenta do museu.
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