Por: Flávia Villela. Fonte: Agência Brasil
Fotos: jornalipanema.com.br / smartkids.com.br / febraban.org.br
Edição: Jorge Luiz da Silva
Salvador, BA (da redação
Itinerante do Blog MUSIBOL)
Pesquisa recente da universidade norte-americana de
Georgetown mostrou que um programa brasileiro voltado para famílias carentes
com filhos com doenças crônicas contribuiu para a redução em mais de 90% do
tempo de internação dessas crianças em hospitais públicos no Rio.
Durante três anos, os pesquisadores acompanharam 299 famílias
carentes do estado com crianças nessa situação, sendo que 127 haviam tido
acesso ao programa desenvolvido pela organização não governamental (ONG)
Associação Saúde Criança. Foi constatado que o tempo de internação caiu de 62
para nove dias para aquelas que fizeram parte do programa. Além disso, as
crianças ficaram 11% menos propensas a cirurgias ou a tratamentos clínicos do
que as que não tiveram acesso ao programa. Entre os casos crônicos registrados
havia doenças infecciosas, câncer, cardiopatia e anemia falciforme.
A metodologia do programa, utilizado há mais dez anos pela
ONG, inclui um plano de ação familiar de corresponsabilidade que atende às
áreas de saúde, geração de renda, moradia, educação e cidadania. A fundadora da
associação, a médica Vera Cordeiro, explicou que o programa abrange toda a
família e além de amparar a criança, ajuda os parentes a superarem a pobreza
extrema.
“Grande parte das doenças é consequência das más condições em
que vivem essas famílias. Então, como a pobreza é multidimensional, se não
atacarmos o problema de maneira multidisciplinar não diminuímos as
reinternações”, comentou Vera.
A equipe do programa
inclui advogados, psicólogos, assistentes sociais, arquitetos, nutricionistas,
pedagogos, médicos, entre outros. “Muitas vezes, reformamos a casa da criança,
que era o motivo da asma, providenciamos educação para os irmãos”,
exemplificou.
O parente compromete-se a comparecer mensalmente ao local de
atendimento para acompanhar o plano de ação. “Há uma série de contrapartidas.
Se a mãe parar de fazer sua parte, ela é desligada do projeto”, disse a médica,
ao lembrar a geração de renda, matrícula e frequência dos filhos na escola como
contrapartidas. “Medicina e direitos humanos devem caminhar juntos”,
argumentou.
O estudo mostrou ainda que a renda das famílias atendidas
pelo programa quase dobrou e houve um aumento substancial no percentual de
adultos empregados, de 54% para 70%. O percentual de frequência na escola
passou de 10% para 92%. Os adultos das famílias que sofreram impacto da
metodologia tinham 12% mais chance de estar empregados do que outras pessoas na
mesma área geográfica, após três anos no programa. O índice de famílias com
casa própria também aumentou, passando de 25% para 50%, além daquelas com
acesso a programas de transferência de renda.
“A pesquisa mostrou que o programa é efetivo na quebra do
ciclo vicioso de miséria, reinternação e morte”, disse Vera. Segundo ela, o
objetivo da ONG, criada há 22 anos e que atua em seis estados, é que o programa
auxilie todos os hospitais públicos do Brasil por meio de parcerias.
Os recursos vêm da iniciativa privada e patrocinam
atendimentos em 11 unidades nos estados do Rio, Rio Grande do Sul, de
Pernambuco, Goiás, São Paulo e Santa Catarina. A metodologia também é replicada
por franquias sociais em mais seis estados e foi adotada como política pública
em Belo Horizonte.
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