Por: Mariana Tokarnia. Fonte: Agência Brasil
Fotos: guiadacarreira.com.br
/ Ag. Brasil
Edição: Jorge Luiz da Silva
Salvador, BA (da redação
Itinerante do Blog MUSIBOL)
Em 2014, as 59 universidades federais e os 38 institutos
federais de educação, ciência e tecnologia deverão reservar pelo menos 25% das
vagas para alunos da rede pública, de cursos regulares ou da educação de jovens
e adultos. A regra vale para quem quer entrar no ensino superior com a nota do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A Lei de Cotas (Lei 12.711/2012) começou a valer este ano,
quando pelo menos 12,5% das vagas devem ser destinadas aos estudantes. Até
2016, metade das vagas será destinada aos estudantes das escolas públicas.
Dos mais de 7,1 milhões de inscritos no Enem 2013, 1,6 milhão
deles estão concluindo o ensino médio. Para concorrer às cotas, o candidato
precisa ter cursado todo o ensino médio em escola pública, em cursos regulares
ou na educação de jovens e adultos.
O Censo Escolar de 2012 mostra que a maioria dos estudantes
de ensino médio está matriculada em escola pública, e a maioria está na rede
estadual (84,9%). As escolas privadas respondem por 12,7% das matrículas, as
escolas federais por 1,5% e as municipais por 0,9%.
“Há um problema muito grave de autoestima na escola pública.
Isso é um fator que faz com que os alunos não acreditem na sua capacidade de
conseguir uma vaga em uma instituição federal de ensino superior”, diz o
professor Klinger Ericeira, do Centro de Ensino Médio Elefante Branco, escola
pública de Brasília. “Agora, com a Lei de Cotas, o Enem parece que atingiu um
novo patamar na cabeça do aluno, que percebe que realmente existe essa
possibilidade [de ingresso na universidade pública]”, acrescentou.
Amanda Barbosa é estudante da Universidade Federal Fluminense
e Fhillipe Antônio Araújo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ambos
foram aprovados pelo Enem pelo sistema de cotas. “Não fosse pelas cotas, eu não
entrava”, diz Amanda. “O Enem é muito mais abrangente, dá mais igualdade aos
candidatos. Além disso, é mais barato que outros vestibulares e dá a
oportunidade de disputar em qualquer lugar do país”, diz a recifense.
Fhillipe também veio de fora do Rio de Janeiro, de Fortaleza.
“As cotas têm a ideia central de beneficiar quem não teve acesso a uma educação
de qualidade ou no mesmo nível dos outros. Elas me ajudaram sim, minha nota foi
menor do que a ampla concorrência. Talvez, eu não tivesse entrado se não fossem
as cotas”, conta. Para se manter no Rio, ele recebe uma bolsa da universidade.
A partir do segundo semestre, as bolsas de manutenção
começaram a ser oferecidas para os cotistas em todo o país, pelo Ministério da
Educação. Estudantes com renda inferior a 1,5 salário mínimo, de cursos com
carga horária de no mínimo cinco horas diárias, podem participar do Programa
Nacional de Bolsa Permanência e receber R$ 400 mensais. Para estudantes
indígenas e quilombolas, o valor é superior, R$ 900. A lei diz que as cotas
serão preenchidas de acordo com as notas dos alunos.
As vagas remanescentes estarão disponíveis aos autodeclarados
pretos, pardos ou indígenas, seguindo a ordem de menor renda. Em seguida, terão
prioridade os demais estudantes de baixa renda. As instituições devem oferecer
a pretos, pardos e indígenas (classificação usada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE) a mesma proporção de vagas que representam na
unidade da Federação, com base nos dados do IBGE.
Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros
da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocêncio, a política não combate o
racismo de forma plena. “Eu acho que é um erro de análise sempre atrelar o
fator sociorracial à renda”. Ele diz que em um ano de vigência já é possível
ver alterações no campus. “Começamos a ver mudança na paisagem do campus.
Antes, andar no campus de uma universidade sueca e na UnB não fazia diferença.
Hoje, começamos a ver uma diferença, a ver pessoas de diversas origens”.
As provas do Enem serão aplicadas no próximo fim de semana,
nos dias 26 e 27 de outubro.
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