Por: Cristina Indio do Brasil. Fonte: Agência
Brasil.
Fotos: irdeb.ba.gov.br / cinevideoproducoes.com.br
/ 4.bp.blogspot.com /
Edição: Jorge Luiz da Silva
Salvador, BA (da redação
Itinerante do Blog MUSIBOL)
Os encontros com mulheres de diferentes culturas de países da
África são o centro do documentário Tão Longe É Aqui, da diretora Eliza Capai,
que será apresentado hoje (8) na mostra Novos Rumos da Première Brasil do
Festival do Rio, no cinema do Centro Cultural Justiça Federal, no centro do Rio
de Janeiro.
A documentarista e jornalista disse à Agência Brasil que a
motivação da viagem ao continente africano foi entender a identidade brasileira
influenciada por uma bagagem cultural africana tão forte e ainda desconhecida.
“A gente tem ideias genéricas de lá. A viagem parte desse genérico das
africanas, escolhemos países com culturas diferentes para contradizer a unidade
das africanas”, explicou.
Eliza Capai, jornalista especializada em pautas
internacionais de gênero e direitos humanos, começou a viagem em janeiro de
2010 com uma câmera e uma mochila. Durante sete meses visitou Marrocos, Cabo
Verde, Mali, Etiópia e África do Sul e se deparou com assuntos diversos como
poligamia, o uso do véu, mutilação, aids e punições para o sexo antes do
casamento. “As mulheres que eu encontrei eram absolutamente diferentes, tanto
da gente, como entre elas”, disse.
A jornalista e documentarista contou que quando chegou na
Etiópia e no Mali, onde foi a vilas em lugares mais isolados, notou que a busca
pela identidade brasileira seria mais difícil. “O ser brasileira não
significava nada, porque como não há turistas brasileiros lá e não tem energia
elétrica, quando eu falava me associavam a uma europeia. E no lugar de ser de
um país colonizado, eu virei a colonizadora. O fato de eu ser reconhecida como
colonizadora foi uma experiência muito forte”, disse.
Para Eliza, o fato de lidar com o incompreensível o tempo
todo na Etiópia, porque não ser colonizado e não ter uma língua em comum, a
obrigava a simplesmente observar sem querer julgar a cultura local. “Fui para
responder algumas questões e voltei com muito mais dúvidas e interrogações.
Acho que essa foi a grande riqueza da viagem”, analisou.
Em Marrocos o contato com uma advogada também gerou na
diretora muitas reflexões sobre o islamismo.
“Ela é islâmica, não bebe, mas não usa véu e exerce o islamismo da forma
dela. Quando eu comecei a falar do feminismo, ela disse que o véu faz a mesma
coisa da teoria feminista que é proteger a mulher dos olhares mais para baixo.
Ela deu uma outra leitura do islamismo e fiquei muito feliz de ter um outro
ponto de vista. O que mais me impactou foi repensar conceitos que eu tinha,
repensar estereótipos”, disse.
A diretora destacou que o filme, que não recebeu recursos
oficiais, foi produzido com o esforço de amigos e com financiamento coletivo. O
documentário foi exibido em julho no Festival Internacional de Cinema Feminino
Femina, no Rio de Janeiro, e levou o Prêmio Especial do Júri.
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